20 de dezembro de 2011

Não contamine

Assim, do nada
Do cheio que existe no mundo me desceu uma vontade igual
De morar numa bola oca
De correr dentro da preguiça do sonho
Que nem preguiça é, é desejo de parar o corpo
A cabeça
Mesmo o monstro gigante da alma
Que a vontade é que morra a falata dela mesma


15 de dezembro de 2011

Saudade

Derretida no orvalho que não passa as paredes
Na grama verde-escuro rolava
Recordava e sonhava outro par de braços e vertingens...

Que do alto do sonho é um desperdício voar para baixo
Abaixo a realidade!
Eu grito a fome que falta na vida
Uma paisagem externa menos bonita
Um dia no tempo marcando saudade...

A essência do sonho do mundo

Preciso rezar devota e repetidamente as palavras do teu coração
Que é meu
Que é o meu
Pra ver se sossega ele no peito
Mas num ritmo crescente
Ele chora a alegria do desespero apaixonado

Se eu trocar nosso rosto em minha alma, um dia
Num dia em que faltar a magia predestinada da vida
É que esta é a parte mais injusta do tempo
Mais cruel e invejosa

Roguei à um canto do mundo
Dormir sobre a pluma clara das certezas
Acordei com o teu espírito puro
À metade do meu selado
Pintando forte na mesma alma
A plenitude de que falava a beleza

12 de dezembro de 2011

1/4 anima o consciente

Era menina
Azul qual o lápis invisivel
Era só e convulsiva
Encrustada de ambulantes quartos repulsivos
Só dormia de algodão
Na noite aposentada dos prostíbulos
Era menina nos olhos da infancia devorada,
Alí no aperitivo da eternidade, notada
E acordada calça um luto a menina de corpo cansado
Velho
O inconsciente em escombros fétidos
O idealizado do coração sequer  mutilado
Nunca fora sonhado
E quente uma vez, suspira em vapores a frieza da vida, da garganta, do quarto
Vomita a borboleta alegre
Saiu do casulo para o véu da crescente morte ser enfim usado

Presa no poema, cai

Guimarães escolheu 
Do prédio mais alto para voar
O motivo mais indigno para escolher
Passou calmas horas analisando o pôr do sol
Cegou seus olhos ao cair da escuridão
Esperou mais um dia
E assim ao amanhecer
Quando os bêbados praguejavam os primeiros raios de sol
Ismália aspirou toda a beleza
Que a natureza ainda mais humana cativava do próprio olhar
Ismália não quis a lua do céu
Ismália não quis a lua do mar
Não houve tempo de chorar
Gritar ou se compungir
Havia meio caminho e Guimarães a julgou
A jogou
E entre duas escadas de espinhos azuis
Obrigou-a descer
Ismália não pôde voltar
Vôa até sempre nos versos em que ele desejava morar

30 de novembro de 2011

De dentro pra fora

Tem algo de muito doce respirando em mim
Atrai formigas
Resfaz a sede
Tem algo de muito calmo
De tanto branco
De mais amor
Tem perfume exalando
Cantando!
Pintado
Esculpido
Tecido por letras que não tem
Sentimentos que não vem
Tatuado por seres que não pesam os passos no chão
Por pluma, nuvem, brisa,
O extremo mais leve da emoção

Cá dentro

Queria um pouco do que me falta
Nada
Falar da ostra e registrar uma inspiração
Passa
Ela fica cá dentro, esquecida
E morre antes a flor que é mal cultivada
Ela fica cá dentro
Do disco arranhado o susto toca eternamente
Dentro
E dentro ficarão meus segredos e os teus sentimentos
Grandiosos e sutis
Eles dançam e conflitam, cá dentro
De nós

15 de novembro de 2011

Engolindo água

Como quem visita a pressa
Quem procura a paz urgente
Busco a pupila de um vento enluarado
Que me reserva a noite negra ausente
Pra responder...
Rogo sensações milhares
Pulso apaixonado
Mar falsificado
Dele eu rio, abaixo empurro o oco do arrepio
E de avalanche a areia explode,
Na janela aberta eclode
Enfurecendo a tempestade da lembrança
A vida virou a tarde
Transbordando a fome de uma mesma saudade


29 de outubro de 2011

Esboço de lua no céu

Do silêncio de estrelas, fez-se a sucata
Quase um ponto luminoso
Quase uma chuva
A quase existência de uma dor
Quase um espirro do monumento enfermo
Dois espíritos quase apaixonados
A quase vontade de um beijo
Quase o protesto da maçã
A milésima separação do mês
Quase...
Porque os pombos quase me falaram
E o som das folhas quase me iludiram que era o mar
Mas eu quase fechei os olhos
Quis enxergar quase todo o frio no arrepio da pele
A força da tempestade quase me arrastava
Porque de sono extremo eu quase sonhava

7 de outubro de 2011

Nem sei qual par, criança inventa!

Ainda a pouco vi nós dois
Nem sei a metade do par...
Sei que corria, cambaleava!
E com os pássaros, nossa infância gargalhava
Feito as hienas que não conhecemos hoje
Feito as lágrimas de um riso rechonchudo
Nós dois
Comentando a árvore que não crescia
A cadela que mugia!?
Pelo chão, reparava o pó que levantava
Quando fui levar o lixo
A barriga retorcia
Nossos cabelos
Imitando a euforia...
Eu vi na água
Que o calor evaporava
Senti na pedra que irritava o teu sapato
Esperava o trem junto ao pinheiro incomodado
Exploradores da mesma paisagem
Respondia a folha leve qual o destino dos vagões
À tardinha, no boteco
Centavos enchiam nossas caras de doce
Perguntava à saída da missa:
- E se a lembrança assim não fosse?


O espírito que partia

Um verso exato
Como onda rasa
Bate ao lugar que deveria ser casa
Numa manhã do calendário
No espelho americano do mapa...
Novas caixas embarcam numeradas
Levam bagunças bem dispostas
Fila selvagem, organizada

Todas as vezes minto

Entre o que a gente sabe
E o que a gente sente
Há sempre o que a gente cria,
O que a gente mente
Nisso eu acredito
Nada que penso foge ao conflito

4 de outubro de 2011

Ao mesmo Sol

Cá, onde me fazes tornar
No verde-escuro
Na falta de ar
Agarrada aos pés da altura
Descrente de voltar a voar

Abaixo

Chega de sol na janela
Era tão velha
Chega de vida
Saltos na sala
Chega de quedas
Super-heróis
A parede declara:
-A partir do passado
eu durmo no chão...

3 de outubro de 2011

Pela sala

Chantagem a vida
Mente a água cintilante do mar
É fria que corta
A esperança de se deixar cativar
Respeito, repito!
Me ordeno, me moldo, reflito

Voltou

Vou decidir meu futuro
Pôr sempre à mesa
Ansiedade, teimosia
Certeza
Vou saltar pelo muro uma aventura
O que fica em cima dele nunca dura

23 de setembro de 2011

Sonhamos Notre Dame

Deixe eu voar
Só hoje, um pouco!
Pelo alto das catedrais
Qualquer estilo que não for barroco
Sem vontade
Da maior tristeza extrai-se a serenidade
No cume do esforço
Alcança os sonhos arcaicos e suas frações realizadas
Me traem todas palavras
Fantasmas ressurgem
Nem mudam a ordem da entrada
Não vale a cigana, falso encanto
Vale a mentira nos teus presságios
O sol do afresco era mero plágio

15 de setembro de 2011

Água vem, água volta sedenta

Pra plantar a alegria no peito
Não necessita esforço de braço
É prazer que se revela na calma
Quando repousa em meu calor teu abraço
Me acaricia a voz terna da alma
Desmancha em fumaça o desassossego
Já que da lama brota uma flor colorida
Do coração do ser apaixonado
Nasce uma força a mais nessa vida!
Por hora colho o maduro das ondas
Pelas árvores cheias de saudade
Nos teus olhos de doçura infinita
Reconheço o que é de verdade

13 de setembro de 2011

Qualquer artista


Tinha a culpa de ter nascido
Sobrevivido e ter pintado
De ter colorido a morte com flores 
A sorte com seus temores
Tinha culpa de fantasiar asa em papel
De ter enjaulado em nuvem horrores
Tinha culpa em dançar com os murmúrios
Culpa em encher o quarto com lápis
Em desenhar e sorver os venenos do cálice
E de prever sua sentença, ergueu a cabeça
Gritou que deixassem os olhos no ar
E aspirassem as estrelas que fazem, à noite, sonhar

31 de agosto de 2011

De malas pra Lua

Nada em paz
E nada diferente então
Nunca sonhei com os pés no ar
Mas num dia fosco me escapa dos braços a graça do sol
Culpada a cor preguiçosa ou o som ausente do mar
Vagarosa, devo buscar lados de brisa
Num outro canto longe do céu
Dias ruins vão ficar como lacunas pesadas ficam suspensas na alma
Nem a pintura forte da tarde cobre a soma da decisão
Suas fraquezas me tiraram do lugar
Tanto faz que a lua seja opaca
É lá que me fazes pensar em morar

30 de agosto de 2011

Lapso branco da noite

Havia luz fluorescente e delicada melodia
Estampas nítidas unidas ao ouvido de um sussurro breve
Lá fora,
Segredo angelical a inspirar romantismo aos inocentes do coração feminil
Sensível e dócil, da única sensível e dócil mentira
Mais artifícios gentis vagavam no cômodo acolhedor
Qual luz saborosa do fogo
Desprovidos de efeito, porém
Inútil trabalho de menina
Insatisfeita de lamentos óbvios entornava a tempestade aos lábios febris
Aos poucos a sede lhe retornava
Eterna falta de um mar

19 de agosto de 2011

Eu sou o relógio, às vezes

Passadas as horas
Todas
Ele adormece, de súbito
Sem suspiro, sem murmuro, previsão...
No último tempo, na beira do fim
Despenca
Que só a espera tem licença de assoprar...
Portanto fica
Só se pode escalar engrenagens
Volta
Pisa em tal dificuldade qual a minha em entender
Lhe ver
E em pena, ainda, me sente
Ensina aos meus olhos ouvir o coração
Parado em meu peito, desiste e não bate
Arrodeia e tonto insiste no eterno arrodear
Impulso de quem não espera mais de mim, opera

12 de agosto de 2011

Pré-sono, pré sonho

Saudade chorada
Morta
Contraria a você
Um amor contente e falho
Mesmo ausente
Todo o pavor num avesso imediato
De repente, 
A flor do campo desperta no túmulo
Se aconchega, bela tal qual é
Imponente
Num dia cansado, cochila na colcha estampada de folhas
É vivo o aroma que eu respiro
Te guardo no alto do coração, próximo a nuvem de algodão
Antes do céu
Me desculpo e lhe agrado
Bastou o dia dentro de um sono
Amei quanto pude esse contato

7 de agosto de 2011

Deixou o amor solitário o poeta, para amá-la uma só vez

A tua alma de poeta amou
Amou inquieta
Por lugares sem romantismo vagou
Vagou tua calma calejada
No corpo esbelto da dor
Bailou no céu de tua boca, metade do beijo, em versos feios
Desajeitada a tua habilidade, mestre, falhou
Engolira os nervos que clamavam ao anjo
Em garganta febril de espanto, calou
Oculta nas pálpebras tua nobre vontade
Não amava o amor, a amada.
Pudera ela enxergar migalhas de um sonho
Chegasse aos ouvidos, tua informal versão
Fosse em soluços, gagueiras, verdades
Puros de peito, refeito em olhos baixos de amor
Soubesse ela trocar teus medos nos risos
Guardar-lhe os segredos no morno da face
Abraçar tua atenção
Se os olhos ciganos passassem de infeliz adorno
Adivinharia o poço deitado nas flores de tua janela embaçada
Curaria a dor de tuas lembranças vivas
Soltaria o peso do sorriso inteiro
Afogada a aflição torta em teu próprio tormento
Morreria ela, como morre certo de si o vento em noites de verão

31 de julho de 2011

Regresso (Do oposto do segredo das mãos)

Essas coisas bem trancadas no teu peito
No teu medo
No teu sonho
De como não sou antes
Note
Grite a frente e anote em versos
Enfrente
O único sopro que não me derrubará
Toque
Toque mais fundo o coração sem que permita
Sei eu o que importa
Insista
É um tanto milhões de vezes mais delicado ele, se inteiro
Pois sê inteiro, ser comedido
Inteira e desmedida a alma após

28 de julho de 2011

De minha lembrança salgada esquecida nas ilhas que nunca pisei...

Me acorda a mente ofertando o bálsamo
E o peito afogado em medo, respira apertado
Descalços os pés marcham à leste
Nasce algum sol
Minha vontade, equilibrada sobre a ponte
Extasiada de seu canto
Levitante
Pinta-me em um dos tons do céu
Mescla de cor, canção
Invenção particular
Tu, areia, convida meu corpo
Tocada em brisa
Enamorada
Minha alma despida irá respirar
De seus encantos a ressaca envolvente
O feitiço me chama
Beija-me os pés, primeiro
Sente o calor do coração
E cortês
Em ondas verdes puxa-me inteira
Sussurra os segredos
Partilha de toda a sua imensidão...

(26/07)

25 de julho de 2011

Delicada

Teu olhinho manhoso
Medroso, me encontra
E tua voz baixinha me conta
Em preço raso compra minha falta
Tua mão, pequena
Com teu riso trêmulo acena
Da saudade que vem saltitando
Das rimas que nos custaram tanto
Uma conversa
Desajeitada
Alegre, delicada

23 de julho de 2011

Andei

Ando emprestando palavras tortas
Me vendo aos olhos do que esqueço
Escapo ilesa e manobro o impulso
Me esqueço
Se até em teu nome andei pensando
Pisando a calçada rasguei em avesso
Tua saudade me jura a verdade
No meu espelho refletes tão tarde
Me explique a razão das contas
Se ao final dos contos me sinto infeliz
O excesso em lembrança rói o terço do peito
Arranca calma que não aceito
Ao chegar do último canto que mereço
Troco a velha melodia de endereço

20 de julho de 2011

Cor padrão

Mas em teu riso preto,
E branco a seco, a força
De uma insistência qual humildade rasga o aço
Tua carência estende as mãos à frente
A oferecer o que um prazer lhe quis negar
Em teu orgulho vivo, um rato
Diversão de teus iguais mais fracos
Cabeça pra perder num rio de frases que não sabes ler

18 de julho de 2011

Corte

Nada vale antes do pó
Tua escada é manto rasgado e cheio
A pergunta que me responde a canção
Não sei se é bom, ruim
Pesado ou triste
Se minha vida existe, quero um pedaço pra chorar

17 de julho de 2011

De uma pessoa só

Pezinhos na areia registram histórias ternas
Contornando a água morna no único contexto que a agrada
Murmura o passarinho
Numa ponte de cordas, passa o mar
Mas emaranhavam-se os capítulos...
A rima dela irrita a onda e nada mais
Aborrecimento que ambiciono
Qual ressaca embala os sonhos de quem não dorme
A rede é o vento
O Sol, a própria chama envaidecida a acabar com rosa a ilustração
A qualquer preço, cubro as viagens do mundo pra lua
E calma, decifrarei nas pegadas o que segue tua lenda
Te amo ainda que fujas de minha proposta
E te espero às vésperas do adormecer

16 de julho de 2011

Que o veneno sufoque a mesma erva amanhã

Te digo, quando em ti tropeço, flor!
Sorvendo em orvalho os goles de tua saudade
Aflita, qual torrão de açúcar afogando a confissão na garganta da alma
É que me apertam os nervos da razão tua falta
Pós êxtase
Me debocham aos sorrisos feito a tua sorte involuntária pelas ruas dos pequenos abismos
Também em soluços contidos, inebriados de satisfação, a demora me assalta o peito
Uma dança vaga dos teus olhos eternos me toma ao colo e embala às vésperas de uma fantasia qualquer
Te respiro, como quem atrai aos pulmões a sinceridade e exala em perfumes sórdidos o fardo pesado do mundo vivo
Minha distância entende que escutas minhas verdades no calar de silêncios disfarçados pelas vergonhas mais discretas
Não morrerás, nem deixará existir maior beleza, viva
Subamos além, feito a escada de cordas escala a lua nublada
Feito o mesmo sentido a aproximar nossas palavras

6 de julho de 2011

Desenho da primeira tarde

As cores imitaram hoje a neve dos filmes
Num cenário improvisado sem flocos de gelo
Tingida do azul desbotado a calma dos prédios rezava
E os sinos da outra igreja, ao longe cantavam
A paisagem, abraçada às casas com frio, mesclava esse mesmo tom ao das luzes douradas
Dormiam acesas, nos morros do velho campo
Era outra beleza, fugida dos braços de sol que se despedem rotineiramente majestosos
Era gracioso, delicado, claro
Sereno como a generosidade do tempo que para pra uma moça triste contemplar...

(05/07)

2 de julho de 2011

Logo menos

Sabes bem que encanto corriqueiro nos arrebentará
E sabes que cores desbotadas vão lhe fazer retornar
Que a paz desse drama é o descanso de uma partida nobre
Que os mortais apenas, hão de recordar
Embalados pelas canções fanáticas de Iago
Invocando lembranças no acaso sonhado

Teu rosto nublado

Sem vontade as tuas pernas vem depressa 
Qual velocidade que o sonho inventa
Eu não quero nem invoco, 
Sei que choras cada dia que me escutas nessa face estranha
E acomodado descansarás as dores serenas que plantamos juntos
Qual assalto de passado, qual todo inverno nublado 

1 de julho de 2011

Sete pragas na memória de Troia

Eu sei porque não ousaram sussurrar
O grito acalma a tua raiva no meu peito que inflama
A tempestade vai morrer tão violenta como a pressa de fugir desse terror
A semana que chegar vai relatar que eu aguentei
A força do meu colo aguenta cem
Mas eu vou pegar esse barco turbulento
Eu vou nadar no mar quando ele se quebrar
A praia vai sorrir, meu lar vai convidar para um café
Eu vou rir dessas desgraças e me fartar em novas preces
Cercada de frutas vistosas, areias saborosas
Mar de exagero me aquece

Um quarto do quadro negro inacabado

Arrodeia o gato que desprezo
É ele que me cerca, o estranho que comove
Que minuciosamente se move
Arrodeia o gato que eu não amo e que é de todas criaturas a que pisca e belisca sem vontade,
Prazer, nem piedade
Arranha a fronha suculenta a qual arranca o codinome
Embrulhada em cetim é quarto de quadro negro acabado
E o traiçoeiro nem percebe, chia afinado que ainda é cedo
Sem vontade nem dever
Sem espaço algum pra medo



Oito invernos

Desperta, anjo, a fúria do machado
Largue o peso de teu pavor nos meus lábios cegos de rancor
Dance com ele de olhos embriagados
E me acerte como os abutres o coração da alma
Reúna todos, todos os teus versos repetidos e guarde meus braços
Para que eu os rasgue e lance em carnaval sobre o teu rodopio incessante
Acompanhe-me à floresta de espelhos rasteiros...
Ouça o canto da chama crescente flutuando nas teias
E derrame teu veneno amargo sobre esses versos enjoativos antes do fim

(22/06)

30 de junho de 2011

Espaço em vida

Vou catando lembrancinhas dolorosas rio gelado afora
Me clareia o rosto essa chuva pesada que tenta levantar amanhã
Se teu futuro me adivinhasse uma alegria dentro dos próximos passos
(Em cima dele e seus)
O lago abriria uma contradição e retornaria o mesmo
Que o pesar me basta agora em manchar de tinta negra a face rosada em flores
Frescor de inverno
Nesse veludo rouco que treme o corpo em desgraças me avisando mentiras maldosas, um anjo
Anda! Flutua, barco, sem cansar meu braço e encosta na garrafa certa
Vai buscar meu ninho de ternura permanente, empenha tua calma e dispõe tua vida a me embalar de vez

25 de junho de 2011

Nos limites

Choraste a minha lembrança em tua dor mais confortável
E regravaste as canções no meu peito, no teu
Dormiu três dias em meu colo porque me recusei cansar
Cansei de desejar
Me lê igual depois de maior?
Volte sempre contra o ritmo
Guardamos pedaços nostálgicos pra nos separar do tédio de não doer
Até que doa em nós
Mas eu sempre vou querer mergulhar nos teus olhos sem contorno
Me proteja desses medos dentro deles


Não se esquece um covarde

O batuque no chão lembra a doçura das terras livres
Tua dança na sala morta...
Alguma parte em teu peito me escolta
Notas antigas vão lhe entrevistar
Meu destino debruçado em sonhos vive a teu dispôr imaginário
''-Canções pra te envaidecer, menina...
Mas eu, escolhi a frieza de meu pai,
Quis te cortar com a faca afiada na boca de uma união
Me vingar com teu sangue puro, pra que me lembres...''
Repugno
Lhe faz herói fugir da sorte pra lamentar ao mundo angústias por ti concebidas
Canta à teus filhos, covardes...

(01/06)



11 de junho de 2011

Emoção desconfortável

Bonito é que as letras se aglomerem no frio
Tece um manto macio como a brisa suave no ouvido
São tuas, são minhas inimigas
Tua emoção que viaja em teus sonhos se lança à minha sorte
Cigana é o nome de um pássaro
Eu sou pessoa que brinca ao voar
Desnecessário é enfeitar a verdade
É?
Crie um sonho engraçado pra lembrar...
Às vezes me sinto um tanto além da exaustão
Mas passa
Muda como o pó da ampulheta
Quero dizer tudo até jurar que não me entenderás jamais
Então tente a cada dia e aumente cada por de sol
É puro como é puro derramar o gelo pela casa
Incinerei hoje todas as cartas
Ardeu o peito com as chamas pela ultima vez
Fogo me faz menos viva se enfermo
Durma em paz


Do inverno e do sol

Aguardo tua volta
Desencantada sobre a velha pedra
Esquecida ao sol, por ti, por ti
Por ti que me coleciona os pedaços imaginários
De vento feroz ou de brisa
Me tens antes de sentir, contemplas
Em cima de outra espera gelada me avisavam os versos velozes expulsos aos gritos do meu olhar estático:
O inverno é antigo, em seu baú mofado congela fantasia e encontro!
Vieste antes dos insetos negros, e antes ainda do ruido do trem
Mas minhas palavras não haviam saído da boca
Preferi chorar meus lamentos enquanto escalavas a porta
Foi preguiça de te admirar, quis ser vista
Além do mais, sempre é cômodo ao sol de inverno

(09/06/11)

8 de junho de 2011

Menta (Não me traga velas)

Tudo o que pedes a si mesmo, não questionas
Faz de mim tua boneca, a que não podias ter
Pensa que me podes perder
Não sou eu que me tenho
Molda-me à tempo tamanho que esquece o que desejas
Quero teus carrinhos
Lembra carinho se me lê?
Faz uma saudade em meu quarto, leva minha bagagem que eu desço os lençóis
Vem juntar teu mundo ao meu, me despeço ao jantar

Escasso

Mas teus braços são dois pavores
Conceda-me um favor e me aperte até que à teu ventre eu retorne
Em teu desconforto aninha-me
E tua sede alimenta minha paz
Perdoa-me

7 de junho de 2011

Da loja

Tire tua boca dessa palavra
E coma um a um os conceitos
Perca teu tempo
Teu palco é o amargo
Amas que sintam pena de teu orgulho
E te ergues forjando ser má
Teu muro
Se é que amas...
Que as coisas belas sujam teu ego
Que qualquer paz é como estrondo lírico
Mentes bem
Odeia ser igual que é uma a mais
E grita que odiar e esnobar é incomum
Abraça teu egoísmo, cutuca quem aprecia ao âmago e critica teus iguais
Te olham, e te descobrem mais
Suja de lodo, capacho, inseto chato
Esse é teu rítimo?
Que a raiva me morde pra que me tenhas aliada a ti!
Passou

4 de junho de 2011

Branco

Teu pequeno tronco, apoio a face pálida
Ressaltava a sede
A coragem dela era ousadia extrema
Não perdoava seus suspiros atentos
Era pequeno e também o amava
Corpo movido pelos olhos denunciava:
Tal qual mãe ou namorada
A desejava!

Intocável

Dessa forma que me chama
Somes
E se me escala essa tua falta dá-me broncas
Poções falhas
Queres que a socorra quando pedes
Envergonho-me tarde, me viste nascer

3 de junho de 2011

O terceiro

Parecem meus olhos os teus
São os meus que parecem os dele
Teu carinho perfuma o ar
Ainda que eu não more ao vento
E ainda que ele não sussurre teus versos bonitos aos feixes de sol
Minha janela guarda a paz que te serve
Juro que guardo amor por ti
És leve como leve é a bondade
E puros sois vós que moram em tão grandiosa alma!


2 de junho de 2011

Ia, ia, ia

Brinque à quem já dorme
Que a mera opção seja morta pela escolha!
Eu enxergaria teus olhos que não lembro a cor pra reproduzir um som igual
Adivinho que tua boca sussurraria:
-Pelas roupas nos varais te escolheria verde e mais, à sombra das laranjeiras te buscaria radiante e fugitiva.
A rotina do som e movimento quebraria com o almoço ao meio dia e à meia noite eu dormiria fechando os olhos com você 
Com você eu sonharia
Mais uma vez
Dentro da noite verde clara
Cantando e completando meus versos cotidianos
Sem pretensão de rima
Finalmente a felicidade (passada) acodiria
Num verão irônico eu morreria
Em meu vestido dourado em sol a chuva apagaria o bordado dos versos verdes
Belo é o fraco, em teus braços enfim
Quando em teus olhos convictos, minha paz repousaria

(08/03/2011)

Conforto de inverno

Ares de tempos distantes
De passos rasgando o espaço presente
Teu frio não estendia à teus olhos
Ví teu corpo refletindo algum céu
Escondido
Eu senti
Buscava o que o gelo dos meus dedos pedia
Aos teus
Teus e meus embaralhados, embaraçados e certos
Cordialmente separados por silêncio e por pressa
Saudades futuras
Teu rosto se perde aos ladrões que me cercam
Retorne

29 de maio de 2011

Braços verdes

Tal qual planta a terra me agarra, e só
Tenho céu e ar
Agrada a tua calma, flor...
Atenção ao matiz!
Venha que deito em tua boca minhas cores ferozes
Ah! Tua calma flor... 
Me transborda o espírito em paz
Venha que derramo em ti a angústia presa em meus doces venenos
Basta que me beba pelos olhos
Tome parte de minha ira em teu repouso secular
Contemplo só teu descanso
Como quem rega uma saudade morta
O pó devolverá teu sonho ao meu
Teu suspiro terno habitará meu peito
Dos teus risos vivos, meu tronco seco guardará os ecos
De tua dança, amada, contará o vento

(00:00)

28 de maio de 2011

À tudo

Perdoe buscar tua saudade
No amargo da garganta os tímidos olhos
Doces
Perdido no espaço o que existiu só uma vez
Tuas cores
Brancas eram as nuvens que aconteceram em mim
A tarde eu penso que esqueci
Algum lugar preso no pensamento
Impossível saber se um tempo é mesmo três
Eu sonho ainda com minha maldade
Quero poder apontar minha falta, perdoá-la
Culpar o intenso invisível dos olhos (meus)
Te encontrar como o vento encontra o sol de manhã
Pedaços meus no teu café, minha vontade
Teu esforço, minha piedade
Minta aos teus valores, ensino à ti me deixar
Tal como todas cores se tornam foscas pra sumir
Teus cadernos me vasculham os dizeres do peito
Sou todas pessoas numa, me perdoe se por hora falhar


Segunda menina

Para os teus olhos de novo
Fuja dos raios, menina!
Fuja que eles te engolirão como praga
Eu odeio toda a música!
Medo amigo, pavor
E o jogo de todas as cordas
Lar de labirintos
O ontem guarda fumaça entorpecente
Conta os mesmos segredos à ti?
Desequilibrada menina
Minha pequena fugitiva, vá embora de vez!
Que esses delírios te pertençam ainda em ilhas bem cercadas
E te dissolva o frio dos sete mares
Que um céu avermelhado te arrebente a febre
E que teus olhos sedutores ardam em tua própria vaidade!

23 de maio de 2011

Águas vivas

A grama é mais verde independente da condição
Dos olhos
Do tempo
O tempo é um e a preguiça me faz perder milênios
Você escolhe cuidar do seu lar
Abraça o mundo sem escolher
Trata de ser bom pra partir
Que são as coisas?
Que traços tem teus sentidos?
Minhas frases perdidas datam do mistério da ocasião
Festa confusa dos sonos profundos

8 de maio de 2011

Vives

Minha saudade demora a bater tua porta
Tua tristeza é tão certa que não a podes sentir quando falto
Se minha alma busca alegria lá fora, me leve arrastada aos depósitos de teu mundo
Se é que sonhas...
A força de tuas mãos é limitada, meu peso é carregado de covardias
Meu menino, não quero nada pra mim
Sou indigna de tua paz, meus olhos acompanham a lembrança de um rosto há tempos
Tome meus momentos alegres à ti, lembre que minha fraqueza é a inveja que sinto de tua etapa
Não posso lembrar que o presente me lia em calma
Me encanta e frustra esquecer quem fui quando a verdade simples me compunha
Não me és, nem me adivinhas
Meu coração tem trabalhado em flores, só
De eliminar todo anseio e mentira me resta a dor da certeza a qual trabalhei pertencer
O rosto me agita longe dos sentidos
Minha memória belisca os lábios do coração
Voz que brota trêmula
Confusão de uma saudade, rogue à ele que compense essa minha confissão

7 de maio de 2011

Todo som abstrato

A parede precisa cair lá de cima como o som abstrato sai de uma palavra feia
Não leia nenhuma vez
Da-me tua leveza e tua tranquilidade
É num muro torto que eu repouso essa noite
Revela ao teu coração teu empenho
Ao meu, tua verdade

30 de abril de 2011

Minta

Meu pinguinho de orvalho acumulado
Doce rosa da palavra mais açucarada, de um canto!
Num cantinho, dá-me teu encanto
Vento em sopro traga teus perfumes
Do coração
Cultivada a terra dos teus planos simples
Devolve-me o chão!

28 de abril de 2011

(Os mais medrosos e os mais verdadeiros)

Quando você vai me pegar pela mão?...
Macia
Me levar por aqueles lugares?...
Mágicos
Quando você vai encontrar no reflexo do teu sorriso
(Contagiante)
Toda a minha caixa ornamental de sonhos?...
Depositados
Quando você vai acender as luzes?...
Das velas
E todas as horas vão estar num tempo?...
Inexistente
Eu vou sussurrar que ele se tornou mentira
Pode ser que seja nos encantos do teu rosto
Claro
Na paz do teu ombro
Cansado
Essas minhas estórias rendadas vão suportando o peso das verdades
Temo que eu as descubra mentiras
Meros desejos cegos de uma sede da palavra
(que resume a contradição do que há de bom)
Eu vi um dia no teu rosto uma afirmação
Calma, bonita
Eu percebi um sim e deduzi uma força
Estranha
Mas falta ainda alguma palavra em algum lugar
São meus primeiros versos pra ti...

26 de abril de 2011

Mudo

Mais longe e mais pra trás
Indo para além das letras ensopadas de uma chuva azul
Chorando a tinta de uma telha rosada
Despejada
Numa janela estrelada, roendo as cordas medrosas do dia, uma onda castanha
Fria
Quando se rói, a luz do sol se torna mágica
Quando há sol, há um esforço insuficiente
Constante
Consciente
Irracional
Como que um complemento esperançoso de um poema que espera alguém em especial num labirinto de platéias ornamentais, bem ocupadas por atores bons e maus
Ainda antes da última hora
Vaga, ao descer de uma viajem cotidiana
Uma interrogação suspendia entre os cílios
Humidos, meus
Um coração mordido
E um sorriso barato na lembrança
Antes de hoje
Antes do desembarcar de uma viajem cotidiana
Somado a espera aflita do teu peito à tarde
Querendo que bastasse a frase insatisfeita de uma projeção milenar
Querendo apenas que bastasse, e da forma mais irracional
Que os raios arroxeados tem furado o peito, é verdade
Se são dois, teus lábios inquietos hão de revelar

10 de abril de 2011

Era luz

Sempre a mesma seleção
Morre o que é mentira
Mofada a emoção
E o pesar é ter desperdiçado os lábios do ator
Todas as mentiras que existem, o sou
A dor invisível, eu possuo
Uma luz que triste e perversa, é luz
Os clarões só mostram o caminho
Vão covardes, ladrões e verdades
Meu amor-próprio não me deixa apagar

(18:52)

Meu ponto de desequilíbrio

Está bem perto
Eu preciso tanto dele
Ah! Que dependência
Como eu adoro
Venho manipulando
Criando e calculando
Venho espremendo choros
Berrando canções
Eu tenho procurado tanto, mas não, você não pode saber
Porque eu quero ir embora se você aparecer
Toda vez que eu te achar eu vou te moldar
É bem você, exagerado!
Tosco, um verdadeiro encosto!
Eu quero te agredir e te agarrar
Mas nunca vou me desculpar
Porque eu adoro ser assim
Te esculpir
Quero engolir todo esse barro
Eu to enchendo
Vai transbordar o velho cálice
Me enjoa
Mas depois, quero o teu você dentro de um homem
Você que diz o que eu não quero ouvir
Que não é feito de textos mal decorados, destemperados
Eu cansei de te ler e de esperar
De me fazer e inventar
Errada, confusa, fácil, exata
Desperdício de papéis
Eu te acho em lençóis perfumadissimos
Enjoa
Ateie fogo com essa vela e me faça escrava do teu luar
Mas surpreenda porque eu não imploro!
És contraditório?
Prefiro ser mulher ao te ver tão infantil
Os ovos mal descascaram, tu vês?
Estou te achando dentro da certeza
Porque eu não te quero agora
Quero longe, em outras formas, tons e calor
Insuportável
Eu não quero te querer, te cuspir antes de comer
Te desejo tanto, eu te acho
Não desisti de desistir, me deixe bem aqui
Livre pra fugir
Toda hora, me beije longe do agora
Olhe pra mim sem piscar que eu me arrisco correr antes de encontrar
Do meu avesso transparente e previsível, te acolho
Meu sentir intenso
Meu amor grotesco
Meu ponto vital
Desequilíbrio

(18:20)

25 de março de 2011

Julieta

É que eu não forjo, propositalmente, sentimentos
Eu nem sinto que sinto os dedos falarem
Encarnando personagens, em milhares
De vontades incertas, ainda
E de certezas almejadas
Que eu não queira, sei
Que não precise
Tua canção empurra pelos meus braços
E teus personagens sonham dentro do sono dos meus
Eu digo, é que não sei forjar desinteresse
Eu apresso, é que é dificil exercitar a calma
À tí foi fácil que perdeu a graça
Meta insossa
Sonhar assim me basta
Ainda que me encante o espetáculo
Não significa que eu vá me apresentar

(14:31)

15 de março de 2011

Do gosto do sono

Me deixa morar naquele sono
Naqueles dois, tão vivos como inéditos
E que seja ilusão, eu clamo que me cegue
Que seja acaso, eu me disponho
E que seja nocivo eu me embriago dos seus delírios
Apaga a luz e me faz dormir, beijos da noite
Flores enormes desse sonho
Gosto que eu nunca senti
Deixa alí
Que eu caia, que tem?
Da terra eu não vou passar

(12:20)

12 de março de 2011

Nem o perfeito que te basta

Uma inteligência incompreendida
Burrice
Inocência
A palavra vai chegar à pessoa certa na hora certa
Ela existe
Mas só ela
Existe muda
Com milhares de significados
Pra ninguém
No mistério da lágrima você sempre encontra sentido
Você sempre diz que entende o que não tem resposta
Eu não sou minhas palavras com o teu significado

(23:45)

11 de março de 2011

Até que tua música decida

Sentei pra ver o que passou de um filme eterno
Começou num berço carregado
De amor
Vai terminar num túmulo coberto 
De saudade
Caos interior
Compreendi
A essência não deve ser compreendida
Senti que o controle não pode ser sentido
Nem aprender, nem mudar
Não vou lembrar dos passos
Basta chorar as pegadas até que o extraordinário aconteça
Até que teus dedos decidam encontrar em meu coração morada fixa
Ou estrangulamento

(01:13)

6 de março de 2011

Persistente lembrança

É assim que oscila
Não vi carinho pra lá da cidade
Sabes bem que reservo surpresa
Se um dia sonhasse com minhas palavras caminhando a ti
Se apanhasse no exato lugar de tuas cartas as minhas
Ah! Me daria um beijo na hora de partir
Não faz diferença o sentimento do lado de dentro do peito
Não me chega tua vontade
Teus cuidados
Vaga lembrança do teu amor

(00:09)

À ti

Pedacinho de lua em mim
Noite
Migalhas de pipoca na janela, o vento rouba
Menina vaidosa lendo contos de amor
Ah! Tua melancolia é doce como doce é o cuidado do pai
Tua canção toca lá fora um bocado depois de tocar só pra ti
Tocam teus pés a varanda e emudece o teu coração
Constrói-se um canto para que sonhes
Um mundo para que explores
Teus olhos grandes me orgulham
Não chores que não acha espaço em tua vontade
Cultive abertas as pálpebras, em flor
Derrame se chegada a hora, reserve à ti tuas prendas
Partilhe contigo teu amor

(00:00)

5 de março de 2011

Chama eterna

A espalhar essa tua cor como que fossem as sete vitais
A observar os campos verde-claro dos teus olhos em chama eternamente aberta
A compreender-lhe as linhas do destino na disposição calma das mãos
A apoiar-lhe o anseio
Adivinhar-lhe a nobreza detrás dos feitos singelos
A tecer-lhe ainda o véu que abrigue os sonhos fomentados
A achar-lhe num canto doce, decididamente dedicada a amar-se

(20:27)

Do fogo

Eu gosto desse teu sorriso
É com a cor das palavras que morreram envergonhadas de desonra que eu tento pintá-lo
É como a insistência
Há flores que não insinuam frases
Mas vozes de fragrâncias entoadas em finos coros dourados
Não adianta que eu misture os tons
Eu sei que é fogo e que ninguém o sabe
A alma da guerra não permite que paremos ante a alma do guerreiro ao chão

(19:20)

Linha

Não destrói
É muito amiga ela
Essa que conhecemos por vilã
É necessário o luto quando morre um mal
São transições obviamente transformadoras

(19:00)

2 de março de 2011

Nossas casas

Espera morrer
Espera, ninguém vai entender
Teu brilho ontem era solúvel
Eu penso na música, ela canta
Eu piso a calçada e paro um coração
Ah! Vai brincar de dormir um pouco
A gente sonha que canta desafinado e gosta
Depois volta um pouco a hora e trata as borboletas da barriga
Você para de tentar adivinhar que eu cansei disso tudo
Vai fazer uma casa nossa sem chão certo pra dormir
Vai que eu te ajudo
É assim que eu rio até cair

(17:06)

É só

Que eu poderia hibernar neste inverno, só neste
Eu lhe oferecia a voz e a febre
Você me deixava a contradição do calor e a janela
Uma porção de melodias iguais e eu te entregaria o movimento dos olhos
Eu respiro lento se aumentares os dias da estação
E se forem todos de um cinza assim, consagro-lhe o matiz dos lábios
Faz ventar forte e afasta todo o ser
Um desejo importante, eu troco pela emoção

(pela manhã)

Exceto a madeira

Que os devaneios fossem pinturas inéditas
Saudade recente
Que não piscassem as luzes nem me engolissem os vermelhos
Que não misturasse sono e despertar
É que sou o remédio do eterno distúrbio
Nem lá há sol
Há tampas de tintas, abelhas e nós de madeira roída 

(pela manhã)

Não precisa

Diz-me o que eu sei
Mostra o que há na frente
Ressalta as coisas superficiais
Mas tem um lugar, eu já soube
As montanhas se movem conforme as sinto
Dentro tem por de sol rosado, chuva quente
Excursões iluminadas à vela
Pra curtir meu riso, tem lã e um sopro macio

(pela manhã)

1 de março de 2011

A Via Láctea

Se esconde num delírio o mal maior
O verdadeiro resiste mesmo ao tempo e suas relativas mudanças
Deixa pingar
Apenas deixa
Deixa eu escrever como antes
Ser teia como sempre fui
É abstrato o inexistente
É essa minha expectativa, o vazio enorme de concretização
Um vulcão de equívoco e espera
É que sou tão pouco
São tão nada
De que cansa o acaso?
Eu enganei o orgulho e não há quem o mereça
Escalar a ferrugem é vital
É só
Ninguém é forte por viver
Nem pra ver esses teus olhos grandes
Teus olhos num dilúvio quente impiedoso
Numa viajem constante
Um reflexo mentiroso
Porque cresce, assim, como um pavor?
Quanto mais verte mais inunda-os
É avalanche e não encosta
Depois vem tua voz
Essa tua voz que devorou minha depressão
Mexeu mais na ferida que esse mundo em que volto a mergulhar
Um rio raso em ornamentos espelhados ocultando as pedras famintas
Minha cabeça
Uma febre nervosa
Então entre no peito, covarde, e arranque de uma só vez
A tristeza é só palavra
Sentimento comum
Embriagada repito que é meu
Deixa pra mim a insanidade
Tem mundo a fora pra ser normal
Já não se perde nem a falta de vontade
Um reencontro
Você me viu alegre?
Oh! Desculpe
Desculpe oportunar
Finja que foi um corvo
Um corpo leve e sem luz

(00:30)

28 de fevereiro de 2011

Medida

De súbito
Uma alegria incomum e duvidosa
Pretendida
Uma alegria frequente, espalhafatosa
De repente, uma alegria
Uma certeza prazerosa
Notável, equivalente
Paciente, incrivelmente viva
Exatamente abstrata
Inédita e inconfundivel

(17:19)

27 de fevereiro de 2011

Seis minutos

É uma tristeza tão bonita
Minha tristeza
Eu a possuo
Eu a alimentei
Tratei de suas alternações
Resisti a denominando esperança
Eu a manipulei
Brota das minhas ilusões
Das mágoas provocadas por mim e direcionadas a mim
Uma gota que brilha no sol não desliza pra despertar atenção
Ela chora enquanto tenta fugir discreta dos olhos de um mundo que envergonha o amor

26 de fevereiro de 2011

00:30

Não sei por que
Sei o que
Sou eu
O silêncio
Uma transe
Afaste de mim esse teu vinho
Transborda e não para de chegar
Age sem calcular
Sufoca, desmaia e ressurge em desesperadas proporções
Que é por nós que nos apaixonamos
Fogo que se vê
Ferida que se sente
Desequilíbrio inconsciente 

25 de fevereiro de 2011

Nostalgia

Aquele vento de novo no rosto
Que a liberdade tem um gosto!
Beijo molhado do céu
Segurança em queda livre
Onda me quebra a limitação
Calor boiando no azul
Espuma reflete o algodão
Nuvem me leva pela mão 
Ilha de esquecimento
Um mar sem lugar pra medo
Brinquei de voar quando o sol me abraçou


24 de fevereiro de 2011

Tem capim

Me derretia em diminutivos carinhosos
No canto de bom dia
O som que lia meu jornal de colorir versava os perfumes da manhã
A madrugada no desenho
Lagoinha marrom, filhos das rãs
Os via num passeio extraordinário
As colinas do bairro ainda me chamam
Uma viajem, outra
Madrugada preocupada
Feche os olhos que o dia chega em mágica
Era o espaço que encantava
Cheiro de estrela queimada em açúcar
Livros pesados de oceano e vela
Acaba a  luz
Tudo era festa e sem pressa dava de viver em paz
Eu caminhava e perguntava:
Que são ciganos?
-Estão na novela.
Me faz teu almoço
Retome a tua força
Me abrace de novo e me põe pra dormir

Desconforto

É um leito de rubras canções desafinadas
Dialetos abafados
Secas almofadas
Mofo
Sob um mosquiteiro farpado
Ampulheta enguiçada
Quando se riem de minha umidade os olhos do quadro
Moldura roída
Lua que míngua
A voz do vento quebrando as folhas
Estação equivocada
Belezas que enchem o coração
Da espera
Espera que enche o pulmão de pragas agourentas

23 de fevereiro de 2011

Manta

É que não era uma cama de gelo dentro do sono
Não era uma manta delicadamente tecida em flocos de neve
Não era exata a dança nem preocupada
Era livre como leve, era clichê como é o simplesmente indescritivel
Como é o simples
Perto da adrenalina do escuro desacompanhado de medo
Perto do escuro perfeito do universo
Teto em pedrinhas de cores, teu café pra aquecer

Ou aquelas linhas sem tempo nem palavras

Equivocada pane
Limo na luz
Por todos os dias
Caída sobre a mesma espera
Afiando a faca das canções açucaradas
Bebendo do vento e maldizendo o frio
Amaldiçoando o tempo passado
Perdoe, perdoe, perdoe

Sem que nada a matasse

Os olhos se precipitam e correm muito a frente
Que os botões, não de rosas, do coração, são filhos leias a tão sincero casal
Automáticos suspiros, raros
Te esforçaste em outro momento
Mas assim, ainda, tu sabes que todo aquele conjunto de letras sem linhas faz de nós uma entrelinha
Faz de nós
Sabes, e sei que não sabe-se assim, de graça
Que também não sabe-se de todo
É um relógio, um esconderijo seguro que virá
Dessa forma, metaforicamente
Ainda que não venha nunca convencionalmete
Inusitadamente, inesperadamete, rapidamente
Ainda que não venha, nunca
Soube que soubeste
Soube do encanto que encantara mutuamente
Sem que nada fosse, apenas sem que nada fosse


21 de fevereiro de 2011

A porta aberta, o perigo

Uma árvore que o vento curvou daquela forma
Um só instante
Uma harmonia inédita
Uma vez só
Uma tarde de um sol rosado
Um tom de rosa em nuvens novas
Um só contorno em torno de um céu
Uma casa
Um lar
Um conforto saboroso na mesa
Uma bebida caseira
Um calor parecido
Uma hora
Um sentimento
Uma satisfação
Preenchimento


20 de fevereiro de 2011

Cores

Título é limite singular
'É' são definições doentias
São definições
Vibrações internas são comparações como essas
Um corpo se doa em prol de saciar anseios absurdamente escondidos
Absolutamente alheios
Outras pedras movimentadas
É a pluma dum vento lírico
Linha abstrata inconsciente
Deve ela ser decorada de cordas e casais que a tecem numa dança eterna
Noite sem pontes
Banhada de luzes, inédito ao dia
Temperatura agridoce
Foram anjos seus emissores
Coro que arromba a mais pesada porta
Foi furto sem falta
Energia
Irradiação
Necessidade minha de ser necessária
Permita limitar-se a Dom quando em contradição
Não nascem todos os deuses num só
Nem todas metades direitas livres de coração


Desconforto

São pessoas
E para que mexer na vida exata delas
Derramei o chá que não gostei
Não quero poças sobre o chão
Nem que as percebam os pés descalços
Falar de defeitos pode ser não reconhecer
Ouvi falar de arrogância ainda ontem
Sirenes que não incomodam são círculos de um vermelho espetacular
Que não incomodam
Para que mexer na vida das pessoas
O amargo do chá é elegante no copo
Curiosas poças sobre os pés

16 de fevereiro de 2011

Chantagem hipócrita

Observarás a ferrugem no contrato
Intactos
Aceitaireis os defeitos do outro assim que ele jurar aceitar os seus
Se sentirás superior vendo-o cair e o consolará
Serás completa com uma metade de egoísmo e carências doentias
Se contentarás com demostrações superficiais de afeto após cobranças cotidianas
E ouvireis a vibração de sua voz como ouve ao rato que cutuca o porão
Nem cócegas ao sono fará suas chegadas tardias
Não terá prazer em cozinhar senão para si
Não irá chorar
Não terá arrependimento algum
Não doará
Nem lembrará de outros tempos
Nem dos sonhos inúteis que nunca tivera
É para isso que serve tua frieza e teu cálculo
Tua indiferença e teu contento.



Ante-sala

O que o coração não permite
As pessoas reprimem
O ambiente repugna
O que os olhares acusam
E a tinta negra das convenções encharca
Tudo que os ouvidos gulosos distorcem
E o raciocínio defensivo expulsa
A boca teimosa dela empurra
À flor do rosto a desaforada emoção
Uma desfrutável
Descontroladas suas emoções
Ofendida a razão
Hora errada
Palavra errada
Ordem imediata
À calhar a punição




15 de fevereiro de 2011

Fumaça

Foi a cadeira
Foi uma tosse
Uma praga
Um remédio entalado
Um soluço comum
Um tijolo na cabeça da ave
Um barco furado
Uma vontade esmagada
Uma descrença na garganta
Uma árvore da escola arrancada
Calçada levou minha esperança
Meu sonho
Minha crença
Minha vontade
De todas a maior nem é realizar, não tem forma
É voltar milhares dias
É querer crescer e só
Não ser adulto nunca mais

É que os sonhos se acumulam pra explodir um dia
Ou em cores ou em fumaça

Solidão recíproca

Sensações do inverno
No auge do inverno
Café amargo formando nós na garganta
Calçadas encharcadas de gente e de sol
Rejeição
Solidão
O vento fica sozinho, cortando o silencio dos postes
Chora lá fora, quietinho numa garoa fina
É culpado da fuga do jovem
Do homem que bate a porta
Ele ouve na fresta do vidro maldosas fofocas a seu respeito
Frio horrível, vento horrível
Esfaqueado é o peito de folhas órfãs a que acolheu com amor
Preferido ao artifício dos aquecedores disputados
E assim, ainda, ele canta à noite
Doces canções de um amor guardado
É dele toda rosa, toda folha, todo espinho
É dele tudo lá fora e tudo ouve ao longe os risos de quem contempla dentro a espetacular e encantadora
Novela
E você, ser racional, é infeliz porque assim decidiu
Essas dezenas de árvores não o engolem por querer
Nem cospem o ninho de seus netos por mero prazer
Elas caem de desgosto pra enterrar sua mágoa na lama que você manipulou
Que você estuprou
Descontrolado, covarde
Deixe que a terra plante em tua alma respeito
Permita que os destroços da tua casa rasguem o véu da hipocrisia
Ao fim, perdoe a si mesmo e derrube tudo outra vez

14 de fevereiro de 2011

Dois

Bom respirar quando a tarde tá assim, pra chover outra vez.
Indecisa, a favor desse vento insistente
Ela
Matando essa saudade gostosa do inverno
Contemplando o manto de nuvens rasgado de espera
Nós
Azul e tons de cinza disputam a visão majestosa do entardecer
Amiga íntima das flores do campo coradas, seduzidas pelo doce aroma da terra
Surpresa das nuvens novas que viajam depressa pra contemplar a confusa dança das folhas perdidas no palco de terra
Eu
Invejosa eu,
Do doce carinho que os galhos do eucalipto derramam sobre as adalhas manhosas
Mais tarde e mais forte
O sol
Mais distante a chuva e próximo o calor
Contentes os pássaros que fazem do alto do pinheiro camarote
O sol nasceu duas vezes no mesmo dia
Pra eternizar na memória que cruzará essa noite
Natureza serva que arromba o espírito pra renovar minha paz
Que meus olhos lhe paguem em eterna oração
Conhece-me a alma, o que não posso,  farei à ti





Além do mais

Não é uma estrela azul
Nem é uma estrela
Não é uma simples cor
São todos os tons
Não é maior
Absoluto.



11 de fevereiro de 2011

Tempo

Uma dança
Dezenas de gêneros
Recordações milhares
Saudades não vividas
Que retomar os sonhos seja pior que vive-los
Eu rogo, eu rogo
Eu escuto essa canção enquanto ela me faz chorar de emoção
Eu a repito milhares de vezes
Esses sussurros
Essa voz
E gritos
Altos, baixos
Intenso ou morto
Eu não suporto esse sentido
Essa falta de palavras pra mostrar
Navegar, mergulhar, afogar no rio de um olhar daqueles
Daquele

Vagar e vagar e vagar
E meu coração sorri
Meu coração berra
Não se importa
Dê-me razão
Preces e preces
Deixe o sentido aqui que é bom respirar desse jeito
Me deixe ficar boba sozinha
Deixe que eu pareça ingênua
Lave meu espírito das cargas que me quiseram cética
Eu acredito
Eu prefiro, eu rio e que pareça desespero
A certeza agora é uma alegria medrosa de outras mágoas
É prazerosa uma dor assim
Volto a ser egoísta e fraca
Outras palavras presas vão sair
Dê-me tempo
Deixem, preces, que elas saiam e que elas voem livres
Não pode ser nada que não seja vida





9 de fevereiro de 2011

Antes de entorpecer

Não quero saber
Soube quando perdi o controle das lágrimas
Do lado de dentro do choro
Do lado de fora da alma
Alegria intensa
Imensa
Outro sentido nas mesmas miragens
Maior que a prece
Melhor que a espera
Igualada a paz que criou os anjos
Algo me bastou e todo meu ser reclama
Eu vivo
Eu sinto
E todo meu corpo pulsa
Uma música eterna no coração
Sangue em pactos renovados
Renascido
Que baste assim pra sempre
Absurdo é o prazer de um sonho
Se real, que seja assim
Novo
Absoluto
Que eu não mais peça coisa alguma
O tempo são pinturas planejadas
A mais exata das razões
Se as fadas não cantam, bem sabem dançar 

1 de fevereiro de 2011

Àquela ave, daquela mulher

Difícil entender o contexto
Sua missão
Ser divino
Doação
Sua alegria passageira
E todo seu contento
Sua graça
Ave sublime
Sua espera e seu sentir 
Leve ou bruto como o vento
Amor
E que eu fosse assim satisfeita
E que fosse assim mútuo
Eu não pediria mutualidade
Eu não precisaria
Eu perguntaria se me amava e insistiria que com o lar não é preciso casa
Que a maldade alheia é nula quando se fecha os ouvidos
Que todo seu ser me enche de vida
Homem
Que, eu, sentindo leve e verdadeira sua alegria 
Leve e verdadeiro meu sentido renasceria
Apenas uma missão
Difícil entender o contexto
Ela se contentou?
Se contentou com toda aquela saudade que o vento soprou pelos mesmos caminhos?
Que ela bastasse a ele
Que seus olhos o acalentassem 
Que seu sorriso o iluminasse
Que estar ao seu lado fosse assim, tudo pra ele
Assim
Como quando o sentia contente
Foi tudo pra [ela


25 de janeiro de 2011

Peça final

É da chuva
Dos pássaros e suas manipuladoras canções
Da tempestade
É da luz azul
Da  janela aberta a noite
Do desenho da lua
Das cores da cidade e seu ruido ao longe
Do silêncio ensurdecedor dos grilos
Do sereno na grama
Da extensão do sol de inverno
Da lã após o banho
Do segundo segredo do livro
Das entrelinhas
É da energia convincente do mar
Do frio e do violino
Inunda
Realça
Leva
Eleva
É da largura das folhas da árvore
Ao chão
É da àgua bem fria
Do cume do mundo
Das entranhas da mente premida no olhar
Do medo quando é oculta a percepção
Da falta das letras
Do suspiro
Do não PRECISAR partilhar por hoje
Da contradição
Delicada solidão, sincera


Azul, azul, azul a luz do dia

Grandes olhos castanhos
Cortando a tempestadade
Grandes olhos semelhantes ao rio após a inundação
Olhos grandes
Olhos vivos
Olhos certos da chuva que trás doçura e alento
Quando por milésimos de segundos vira dia
Quando chove assim
Pra iluminar a mente
A verdade dos olhos é plena
O espelho sincero
Não depende da tua crença
Não se revela a tua visão
É minha a certeza da pureza do coração
Por detrás daqueles olhos
Olhos
Meus

19 de janeiro de 2011

Não existe

Melhor forma de pedir o que não se quer
O momento trás certezas e promessas
Não existe promessa
Não existe sentido permanente
Não existe decisão
Meus dedos vão começar a doer
Nem toda a frase complementa o texto
Ninguém diz todas as coisas diferentes
Eu sei
Você imagina
Eu rio
Você sempre erra no plural
Porque esse você nunca mais vai viver

Crimes perfeitos e seus suspeitos

Eu
Te ofenderia se
Eu
Não quisesse falar
Falasse sem vontade
Fingisse muito bem
Eu
Me ofenderia se
Eu
Mentisse pra mim
Mentisse pra ti
Mentisse àquela mosca
É inseto o que eu repuno
Inseto nas palavras
Inseto na escola
Inseto nos ouvidos
Passado
Admiro também o que afasto
Não quero a abelha
Quero o mel que ela daria sem perder
Analise o quanto eu sugo
Eu sugo?
Você não tem minha verdade então
Cego

Plural

Não consigo
'Deixa' não significa 'insistam'
Significa 'eu desejo com toda a sinceridade que você deixe'
Deixem
'Não quero ver' pode ser no mínimo 'não consigo ver'
No máximo 'já não importa, quero paz'
O revés pode ser de uns 10 anos atrás
Meu hoje me concede o 'É'
E troca a minha fúria de ser mal julgada
Pela indiferença de provar ser quem sou
Nervos bem alimentados
Vitamina falha
Minha mente devora e expele
Não sinto esse tempo
Tempo
É preciso encher os pulmões até o fim
Soltar todo o ar
Nem coisas boas, nem coisas más são aspiradas
Não me assusto
Os arremesso

Não esperem que eu fique parada, não peçam que eu espere

Por quanto tempo ficaria sem comer?
Quando pararia de repunar?
O que, antes de chegar a boca, animaria o paladar?
Eu investigo, belisco, empurro goela abaixo
Não tinha fome
Não tinha vontade de comer
É necessário
É vital
Não é enfermo sentir que o estômago não vai digerir
Posso prever que o alimento não é para mim
Antes de provar
Degustaria o vento
O oco
Na temperatura certa
Quantidade exata
Sem aroma
Sem cor
O exagero do tempero é o fato dele existir
Tenho empurrado, será mesmo vital?

18 de janeiro de 2011

Em baixo da hora

Quero o tempo real
O que recolhe o pensamento
Então eu posso querer parar de pensar
Eu penso em me concentrar
Reclamo à parede
Empurra o dia contra mim?
Oportuna o conforto
Bom amigo é o teto
Ilimitada a dimensão do silêncio
Eu quero um tempo assim
Pra mim
Quero a paz que vem depois das palavras
A esperada presença que as cala
Abaixo das horas, transmissão.

Grata

São alegres os elementos
A matéria
São carregadas de sentidos as coisas
A direção à que miram nossos olhos
O que eu sinto é que é oco
Não brilha a cor
Não exala o perfume
Não encontra a verdade