28 de fevereiro de 2011

Medida

De súbito
Uma alegria incomum e duvidosa
Pretendida
Uma alegria frequente, espalhafatosa
De repente, uma alegria
Uma certeza prazerosa
Notável, equivalente
Paciente, incrivelmente viva
Exatamente abstrata
Inédita e inconfundivel

(17:19)

27 de fevereiro de 2011

Seis minutos

É uma tristeza tão bonita
Minha tristeza
Eu a possuo
Eu a alimentei
Tratei de suas alternações
Resisti a denominando esperança
Eu a manipulei
Brota das minhas ilusões
Das mágoas provocadas por mim e direcionadas a mim
Uma gota que brilha no sol não desliza pra despertar atenção
Ela chora enquanto tenta fugir discreta dos olhos de um mundo que envergonha o amor

26 de fevereiro de 2011

00:30

Não sei por que
Sei o que
Sou eu
O silêncio
Uma transe
Afaste de mim esse teu vinho
Transborda e não para de chegar
Age sem calcular
Sufoca, desmaia e ressurge em desesperadas proporções
Que é por nós que nos apaixonamos
Fogo que se vê
Ferida que se sente
Desequilíbrio inconsciente 

25 de fevereiro de 2011

Nostalgia

Aquele vento de novo no rosto
Que a liberdade tem um gosto!
Beijo molhado do céu
Segurança em queda livre
Onda me quebra a limitação
Calor boiando no azul
Espuma reflete o algodão
Nuvem me leva pela mão 
Ilha de esquecimento
Um mar sem lugar pra medo
Brinquei de voar quando o sol me abraçou


24 de fevereiro de 2011

Tem capim

Me derretia em diminutivos carinhosos
No canto de bom dia
O som que lia meu jornal de colorir versava os perfumes da manhã
A madrugada no desenho
Lagoinha marrom, filhos das rãs
Os via num passeio extraordinário
As colinas do bairro ainda me chamam
Uma viajem, outra
Madrugada preocupada
Feche os olhos que o dia chega em mágica
Era o espaço que encantava
Cheiro de estrela queimada em açúcar
Livros pesados de oceano e vela
Acaba a  luz
Tudo era festa e sem pressa dava de viver em paz
Eu caminhava e perguntava:
Que são ciganos?
-Estão na novela.
Me faz teu almoço
Retome a tua força
Me abrace de novo e me põe pra dormir

Desconforto

É um leito de rubras canções desafinadas
Dialetos abafados
Secas almofadas
Mofo
Sob um mosquiteiro farpado
Ampulheta enguiçada
Quando se riem de minha umidade os olhos do quadro
Moldura roída
Lua que míngua
A voz do vento quebrando as folhas
Estação equivocada
Belezas que enchem o coração
Da espera
Espera que enche o pulmão de pragas agourentas

23 de fevereiro de 2011

Manta

É que não era uma cama de gelo dentro do sono
Não era uma manta delicadamente tecida em flocos de neve
Não era exata a dança nem preocupada
Era livre como leve, era clichê como é o simplesmente indescritivel
Como é o simples
Perto da adrenalina do escuro desacompanhado de medo
Perto do escuro perfeito do universo
Teto em pedrinhas de cores, teu café pra aquecer

Ou aquelas linhas sem tempo nem palavras

Equivocada pane
Limo na luz
Por todos os dias
Caída sobre a mesma espera
Afiando a faca das canções açucaradas
Bebendo do vento e maldizendo o frio
Amaldiçoando o tempo passado
Perdoe, perdoe, perdoe

Sem que nada a matasse

Os olhos se precipitam e correm muito a frente
Que os botões, não de rosas, do coração, são filhos leias a tão sincero casal
Automáticos suspiros, raros
Te esforçaste em outro momento
Mas assim, ainda, tu sabes que todo aquele conjunto de letras sem linhas faz de nós uma entrelinha
Faz de nós
Sabes, e sei que não sabe-se assim, de graça
Que também não sabe-se de todo
É um relógio, um esconderijo seguro que virá
Dessa forma, metaforicamente
Ainda que não venha nunca convencionalmete
Inusitadamente, inesperadamete, rapidamente
Ainda que não venha, nunca
Soube que soubeste
Soube do encanto que encantara mutuamente
Sem que nada fosse, apenas sem que nada fosse


21 de fevereiro de 2011

A porta aberta, o perigo

Uma árvore que o vento curvou daquela forma
Um só instante
Uma harmonia inédita
Uma vez só
Uma tarde de um sol rosado
Um tom de rosa em nuvens novas
Um só contorno em torno de um céu
Uma casa
Um lar
Um conforto saboroso na mesa
Uma bebida caseira
Um calor parecido
Uma hora
Um sentimento
Uma satisfação
Preenchimento


20 de fevereiro de 2011

Cores

Título é limite singular
'É' são definições doentias
São definições
Vibrações internas são comparações como essas
Um corpo se doa em prol de saciar anseios absurdamente escondidos
Absolutamente alheios
Outras pedras movimentadas
É a pluma dum vento lírico
Linha abstrata inconsciente
Deve ela ser decorada de cordas e casais que a tecem numa dança eterna
Noite sem pontes
Banhada de luzes, inédito ao dia
Temperatura agridoce
Foram anjos seus emissores
Coro que arromba a mais pesada porta
Foi furto sem falta
Energia
Irradiação
Necessidade minha de ser necessária
Permita limitar-se a Dom quando em contradição
Não nascem todos os deuses num só
Nem todas metades direitas livres de coração


Desconforto

São pessoas
E para que mexer na vida exata delas
Derramei o chá que não gostei
Não quero poças sobre o chão
Nem que as percebam os pés descalços
Falar de defeitos pode ser não reconhecer
Ouvi falar de arrogância ainda ontem
Sirenes que não incomodam são círculos de um vermelho espetacular
Que não incomodam
Para que mexer na vida das pessoas
O amargo do chá é elegante no copo
Curiosas poças sobre os pés

16 de fevereiro de 2011

Chantagem hipócrita

Observarás a ferrugem no contrato
Intactos
Aceitaireis os defeitos do outro assim que ele jurar aceitar os seus
Se sentirás superior vendo-o cair e o consolará
Serás completa com uma metade de egoísmo e carências doentias
Se contentarás com demostrações superficiais de afeto após cobranças cotidianas
E ouvireis a vibração de sua voz como ouve ao rato que cutuca o porão
Nem cócegas ao sono fará suas chegadas tardias
Não terá prazer em cozinhar senão para si
Não irá chorar
Não terá arrependimento algum
Não doará
Nem lembrará de outros tempos
Nem dos sonhos inúteis que nunca tivera
É para isso que serve tua frieza e teu cálculo
Tua indiferença e teu contento.



Ante-sala

O que o coração não permite
As pessoas reprimem
O ambiente repugna
O que os olhares acusam
E a tinta negra das convenções encharca
Tudo que os ouvidos gulosos distorcem
E o raciocínio defensivo expulsa
A boca teimosa dela empurra
À flor do rosto a desaforada emoção
Uma desfrutável
Descontroladas suas emoções
Ofendida a razão
Hora errada
Palavra errada
Ordem imediata
À calhar a punição




15 de fevereiro de 2011

Fumaça

Foi a cadeira
Foi uma tosse
Uma praga
Um remédio entalado
Um soluço comum
Um tijolo na cabeça da ave
Um barco furado
Uma vontade esmagada
Uma descrença na garganta
Uma árvore da escola arrancada
Calçada levou minha esperança
Meu sonho
Minha crença
Minha vontade
De todas a maior nem é realizar, não tem forma
É voltar milhares dias
É querer crescer e só
Não ser adulto nunca mais

É que os sonhos se acumulam pra explodir um dia
Ou em cores ou em fumaça

Solidão recíproca

Sensações do inverno
No auge do inverno
Café amargo formando nós na garganta
Calçadas encharcadas de gente e de sol
Rejeição
Solidão
O vento fica sozinho, cortando o silencio dos postes
Chora lá fora, quietinho numa garoa fina
É culpado da fuga do jovem
Do homem que bate a porta
Ele ouve na fresta do vidro maldosas fofocas a seu respeito
Frio horrível, vento horrível
Esfaqueado é o peito de folhas órfãs a que acolheu com amor
Preferido ao artifício dos aquecedores disputados
E assim, ainda, ele canta à noite
Doces canções de um amor guardado
É dele toda rosa, toda folha, todo espinho
É dele tudo lá fora e tudo ouve ao longe os risos de quem contempla dentro a espetacular e encantadora
Novela
E você, ser racional, é infeliz porque assim decidiu
Essas dezenas de árvores não o engolem por querer
Nem cospem o ninho de seus netos por mero prazer
Elas caem de desgosto pra enterrar sua mágoa na lama que você manipulou
Que você estuprou
Descontrolado, covarde
Deixe que a terra plante em tua alma respeito
Permita que os destroços da tua casa rasguem o véu da hipocrisia
Ao fim, perdoe a si mesmo e derrube tudo outra vez

14 de fevereiro de 2011

Dois

Bom respirar quando a tarde tá assim, pra chover outra vez.
Indecisa, a favor desse vento insistente
Ela
Matando essa saudade gostosa do inverno
Contemplando o manto de nuvens rasgado de espera
Nós
Azul e tons de cinza disputam a visão majestosa do entardecer
Amiga íntima das flores do campo coradas, seduzidas pelo doce aroma da terra
Surpresa das nuvens novas que viajam depressa pra contemplar a confusa dança das folhas perdidas no palco de terra
Eu
Invejosa eu,
Do doce carinho que os galhos do eucalipto derramam sobre as adalhas manhosas
Mais tarde e mais forte
O sol
Mais distante a chuva e próximo o calor
Contentes os pássaros que fazem do alto do pinheiro camarote
O sol nasceu duas vezes no mesmo dia
Pra eternizar na memória que cruzará essa noite
Natureza serva que arromba o espírito pra renovar minha paz
Que meus olhos lhe paguem em eterna oração
Conhece-me a alma, o que não posso,  farei à ti





Além do mais

Não é uma estrela azul
Nem é uma estrela
Não é uma simples cor
São todos os tons
Não é maior
Absoluto.



11 de fevereiro de 2011

Tempo

Uma dança
Dezenas de gêneros
Recordações milhares
Saudades não vividas
Que retomar os sonhos seja pior que vive-los
Eu rogo, eu rogo
Eu escuto essa canção enquanto ela me faz chorar de emoção
Eu a repito milhares de vezes
Esses sussurros
Essa voz
E gritos
Altos, baixos
Intenso ou morto
Eu não suporto esse sentido
Essa falta de palavras pra mostrar
Navegar, mergulhar, afogar no rio de um olhar daqueles
Daquele

Vagar e vagar e vagar
E meu coração sorri
Meu coração berra
Não se importa
Dê-me razão
Preces e preces
Deixe o sentido aqui que é bom respirar desse jeito
Me deixe ficar boba sozinha
Deixe que eu pareça ingênua
Lave meu espírito das cargas que me quiseram cética
Eu acredito
Eu prefiro, eu rio e que pareça desespero
A certeza agora é uma alegria medrosa de outras mágoas
É prazerosa uma dor assim
Volto a ser egoísta e fraca
Outras palavras presas vão sair
Dê-me tempo
Deixem, preces, que elas saiam e que elas voem livres
Não pode ser nada que não seja vida





9 de fevereiro de 2011

Antes de entorpecer

Não quero saber
Soube quando perdi o controle das lágrimas
Do lado de dentro do choro
Do lado de fora da alma
Alegria intensa
Imensa
Outro sentido nas mesmas miragens
Maior que a prece
Melhor que a espera
Igualada a paz que criou os anjos
Algo me bastou e todo meu ser reclama
Eu vivo
Eu sinto
E todo meu corpo pulsa
Uma música eterna no coração
Sangue em pactos renovados
Renascido
Que baste assim pra sempre
Absurdo é o prazer de um sonho
Se real, que seja assim
Novo
Absoluto
Que eu não mais peça coisa alguma
O tempo são pinturas planejadas
A mais exata das razões
Se as fadas não cantam, bem sabem dançar 

1 de fevereiro de 2011

Àquela ave, daquela mulher

Difícil entender o contexto
Sua missão
Ser divino
Doação
Sua alegria passageira
E todo seu contento
Sua graça
Ave sublime
Sua espera e seu sentir 
Leve ou bruto como o vento
Amor
E que eu fosse assim satisfeita
E que fosse assim mútuo
Eu não pediria mutualidade
Eu não precisaria
Eu perguntaria se me amava e insistiria que com o lar não é preciso casa
Que a maldade alheia é nula quando se fecha os ouvidos
Que todo seu ser me enche de vida
Homem
Que, eu, sentindo leve e verdadeira sua alegria 
Leve e verdadeiro meu sentido renasceria
Apenas uma missão
Difícil entender o contexto
Ela se contentou?
Se contentou com toda aquela saudade que o vento soprou pelos mesmos caminhos?
Que ela bastasse a ele
Que seus olhos o acalentassem 
Que seu sorriso o iluminasse
Que estar ao seu lado fosse assim, tudo pra ele
Assim
Como quando o sentia contente
Foi tudo pra [ela