25 de janeiro de 2011

Peça final

É da chuva
Dos pássaros e suas manipuladoras canções
Da tempestade
É da luz azul
Da  janela aberta a noite
Do desenho da lua
Das cores da cidade e seu ruido ao longe
Do silêncio ensurdecedor dos grilos
Do sereno na grama
Da extensão do sol de inverno
Da lã após o banho
Do segundo segredo do livro
Das entrelinhas
É da energia convincente do mar
Do frio e do violino
Inunda
Realça
Leva
Eleva
É da largura das folhas da árvore
Ao chão
É da àgua bem fria
Do cume do mundo
Das entranhas da mente premida no olhar
Do medo quando é oculta a percepção
Da falta das letras
Do suspiro
Do não PRECISAR partilhar por hoje
Da contradição
Delicada solidão, sincera


Azul, azul, azul a luz do dia

Grandes olhos castanhos
Cortando a tempestadade
Grandes olhos semelhantes ao rio após a inundação
Olhos grandes
Olhos vivos
Olhos certos da chuva que trás doçura e alento
Quando por milésimos de segundos vira dia
Quando chove assim
Pra iluminar a mente
A verdade dos olhos é plena
O espelho sincero
Não depende da tua crença
Não se revela a tua visão
É minha a certeza da pureza do coração
Por detrás daqueles olhos
Olhos
Meus

19 de janeiro de 2011

Não existe

Melhor forma de pedir o que não se quer
O momento trás certezas e promessas
Não existe promessa
Não existe sentido permanente
Não existe decisão
Meus dedos vão começar a doer
Nem toda a frase complementa o texto
Ninguém diz todas as coisas diferentes
Eu sei
Você imagina
Eu rio
Você sempre erra no plural
Porque esse você nunca mais vai viver

Crimes perfeitos e seus suspeitos

Eu
Te ofenderia se
Eu
Não quisesse falar
Falasse sem vontade
Fingisse muito bem
Eu
Me ofenderia se
Eu
Mentisse pra mim
Mentisse pra ti
Mentisse àquela mosca
É inseto o que eu repuno
Inseto nas palavras
Inseto na escola
Inseto nos ouvidos
Passado
Admiro também o que afasto
Não quero a abelha
Quero o mel que ela daria sem perder
Analise o quanto eu sugo
Eu sugo?
Você não tem minha verdade então
Cego

Plural

Não consigo
'Deixa' não significa 'insistam'
Significa 'eu desejo com toda a sinceridade que você deixe'
Deixem
'Não quero ver' pode ser no mínimo 'não consigo ver'
No máximo 'já não importa, quero paz'
O revés pode ser de uns 10 anos atrás
Meu hoje me concede o 'É'
E troca a minha fúria de ser mal julgada
Pela indiferença de provar ser quem sou
Nervos bem alimentados
Vitamina falha
Minha mente devora e expele
Não sinto esse tempo
Tempo
É preciso encher os pulmões até o fim
Soltar todo o ar
Nem coisas boas, nem coisas más são aspiradas
Não me assusto
Os arremesso

Não esperem que eu fique parada, não peçam que eu espere

Por quanto tempo ficaria sem comer?
Quando pararia de repunar?
O que, antes de chegar a boca, animaria o paladar?
Eu investigo, belisco, empurro goela abaixo
Não tinha fome
Não tinha vontade de comer
É necessário
É vital
Não é enfermo sentir que o estômago não vai digerir
Posso prever que o alimento não é para mim
Antes de provar
Degustaria o vento
O oco
Na temperatura certa
Quantidade exata
Sem aroma
Sem cor
O exagero do tempero é o fato dele existir
Tenho empurrado, será mesmo vital?

18 de janeiro de 2011

Em baixo da hora

Quero o tempo real
O que recolhe o pensamento
Então eu posso querer parar de pensar
Eu penso em me concentrar
Reclamo à parede
Empurra o dia contra mim?
Oportuna o conforto
Bom amigo é o teto
Ilimitada a dimensão do silêncio
Eu quero um tempo assim
Pra mim
Quero a paz que vem depois das palavras
A esperada presença que as cala
Abaixo das horas, transmissão.

Grata

São alegres os elementos
A matéria
São carregadas de sentidos as coisas
A direção à que miram nossos olhos
O que eu sinto é que é oco
Não brilha a cor
Não exala o perfume
Não encontra a verdade