1 de março de 2011

A Via Láctea

Se esconde num delírio o mal maior
O verdadeiro resiste mesmo ao tempo e suas relativas mudanças
Deixa pingar
Apenas deixa
Deixa eu escrever como antes
Ser teia como sempre fui
É abstrato o inexistente
É essa minha expectativa, o vazio enorme de concretização
Um vulcão de equívoco e espera
É que sou tão pouco
São tão nada
De que cansa o acaso?
Eu enganei o orgulho e não há quem o mereça
Escalar a ferrugem é vital
É só
Ninguém é forte por viver
Nem pra ver esses teus olhos grandes
Teus olhos num dilúvio quente impiedoso
Numa viajem constante
Um reflexo mentiroso
Porque cresce, assim, como um pavor?
Quanto mais verte mais inunda-os
É avalanche e não encosta
Depois vem tua voz
Essa tua voz que devorou minha depressão
Mexeu mais na ferida que esse mundo em que volto a mergulhar
Um rio raso em ornamentos espelhados ocultando as pedras famintas
Minha cabeça
Uma febre nervosa
Então entre no peito, covarde, e arranque de uma só vez
A tristeza é só palavra
Sentimento comum
Embriagada repito que é meu
Deixa pra mim a insanidade
Tem mundo a fora pra ser normal
Já não se perde nem a falta de vontade
Um reencontro
Você me viu alegre?
Oh! Desculpe
Desculpe oportunar
Finja que foi um corvo
Um corpo leve e sem luz

(00:30)

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