20 de dezembro de 2011

Não contamine

Assim, do nada
Do cheio que existe no mundo me desceu uma vontade igual
De morar numa bola oca
De correr dentro da preguiça do sonho
Que nem preguiça é, é desejo de parar o corpo
A cabeça
Mesmo o monstro gigante da alma
Que a vontade é que morra a falata dela mesma


15 de dezembro de 2011

Saudade

Derretida no orvalho que não passa as paredes
Na grama verde-escuro rolava
Recordava e sonhava outro par de braços e vertingens...

Que do alto do sonho é um desperdício voar para baixo
Abaixo a realidade!
Eu grito a fome que falta na vida
Uma paisagem externa menos bonita
Um dia no tempo marcando saudade...

A essência do sonho do mundo

Preciso rezar devota e repetidamente as palavras do teu coração
Que é meu
Que é o meu
Pra ver se sossega ele no peito
Mas num ritmo crescente
Ele chora a alegria do desespero apaixonado

Se eu trocar nosso rosto em minha alma, um dia
Num dia em que faltar a magia predestinada da vida
É que esta é a parte mais injusta do tempo
Mais cruel e invejosa

Roguei à um canto do mundo
Dormir sobre a pluma clara das certezas
Acordei com o teu espírito puro
À metade do meu selado
Pintando forte na mesma alma
A plenitude de que falava a beleza

12 de dezembro de 2011

1/4 anima o consciente

Era menina
Azul qual o lápis invisivel
Era só e convulsiva
Encrustada de ambulantes quartos repulsivos
Só dormia de algodão
Na noite aposentada dos prostíbulos
Era menina nos olhos da infancia devorada,
Alí no aperitivo da eternidade, notada
E acordada calça um luto a menina de corpo cansado
Velho
O inconsciente em escombros fétidos
O idealizado do coração sequer  mutilado
Nunca fora sonhado
E quente uma vez, suspira em vapores a frieza da vida, da garganta, do quarto
Vomita a borboleta alegre
Saiu do casulo para o véu da crescente morte ser enfim usado

Presa no poema, cai

Guimarães escolheu 
Do prédio mais alto para voar
O motivo mais indigno para escolher
Passou calmas horas analisando o pôr do sol
Cegou seus olhos ao cair da escuridão
Esperou mais um dia
E assim ao amanhecer
Quando os bêbados praguejavam os primeiros raios de sol
Ismália aspirou toda a beleza
Que a natureza ainda mais humana cativava do próprio olhar
Ismália não quis a lua do céu
Ismália não quis a lua do mar
Não houve tempo de chorar
Gritar ou se compungir
Havia meio caminho e Guimarães a julgou
A jogou
E entre duas escadas de espinhos azuis
Obrigou-a descer
Ismália não pôde voltar
Vôa até sempre nos versos em que ele desejava morar