23 de dezembro de 2012

Teu azul


Era verdade a vontade
De que o céu no auge azul forte da tarde dormisse
e o tempo conseguisse
Imobilizar


15 de novembro de 2012

Cena do sonho e da caça

Fugia com todas as penas
As asas e as cenas
De lamento e 
A cor 
Foi-se esmaecendo
E o voo escurecendo
Pleno
Na manhã
Só vi que o predador ficava
Que a boca fechava
E pingava pelos dentes afiados
Loucos e amoados
Que a presa deixou

A presa deixou
E a fera adormeceu
Sonhou com o céu e seu rancor
Sonhou com a ostra sem saber 
Que ao pássaro engoliu

22 de agosto de 2012

Bem aventurados os que usam olhos pra enxergar


Bem aventurada a náusea
Dos que a sentem
É indicio que têm olfato
E cheiram
Sem disputar a graça cínica de um farejador
Bem aventurado o nojo
Dos que escutam o veludo rouco,
Mal repercutido
Interpretado, falaz
Felizes esses
Sinal que limparam a cera grudenta do cativeiro
Ouviram a voz arranjada
Em flauta doce... e vibraram de inquietação
Bem aventurados os que sentem
Na pele, a pena do fanático
E sentem no peito mole, as palpitações da ânsia
De cuspir verdade alheia
De abrir olhos escravos
Bem aventurados os tolerantes, 
Que respiram o ar dos pesados
Sem regurgitar
Bem aventurada a consciência, a noite, o ar adolescente da liberdade
O sono dos que sonham franco
Beleza dos olhos feitos pra enxergar

23 de julho de 2012

Palavras pra quem quer usar

Num tom cinzento
Urbano
Traiçoeiro
Desciam escadas
Cem palavras

Sequer remetiam sentidos
Tato técnico
Burocrático

Pra inspirar desconstrução
Mais técnica
A problemática
Sentido enfileirado tática a tática

A rima aberta oscilava
Desesperada por encaixe
Pelos escritos vasculhava

Emparedadas,
esperneavam as palavras
(verdadeiras)

O poeta calculista
Soterrou o inconsciente
E de vítima inocente
Sorteou moça infeliz

Cobriu com terra as tais letrinhas
Namorou a pobrezinha
E gerou filhos

...Numerais !

De palha e de vôo

Um solzinho acordava suas pétalas
Arrocheadas
E o mar das ondas mergulhava feito rio na tempestade
Qual gaivota eu pescava os fios
Pra costurar essa casinha
Mas boiei
E um caramujo implorou que o invejasse
Mirei a pria e lacei
Rastejei na água e alcancei os castelos
Retoquei
Teci os bambus retorcidos, fiz morada
Um cabelo de musgo acordou-me na cama e eu rolei apaixonada

22 de junho de 2012

Uma mãe

Alguém me fez mulher
E fez dois olhos
E inventou dez lágrimas para que num segundo, certa noite, eu chorasse
Alguém me fez mulher e fez o escuro
Para que em tal sombra eu lamentasse
E abominasse meus proprios matizes
Alguém me fez mulher
Pra dissolver em ondas douradas
E ter nem sol pra recolher
Alguém me fez dois olhos graves
Preveu
E me fez dedos de entornar poesia
Pois há ninguém que tomar tal força 
Alguém me fez mulher e largou um coração pra pulsar
Entender que a sentença é sentir
Fez amar

13 de junho de 2012

Sou eu, moço lírico no arco-íris

Não ria da minha flor
Pequena, fechada
Infantil
Não julgue o infantil e não deboche das minhas pétalas
Sozinhas, soltas no vento
Ao lado esquerdo do chão, qual sorte
Não contes que não tenho flor
Tenho perfumes e vontade de amor
Mas meu amor é avesso
Que esqueço
Que o lado puro é o coração

21 de maio de 2012

Fogo glacial

A tropeçar
Numa canção que me plantaste ao peito
Vejo que agora não é o momento
Me chega tarde tua intenção

Talvez
Seja o poeta amante triste sombra
Que perambula quase arrombada
Com seus bilhetes secos pelo ar

Foi sem querer...
Que ignorei teu rosto nos meu dedos
Que te deixei num riso compungido
Sem compromisso e olhos eu parti

Teu coração
Me fiz gelada que nem escutei
E ansiosa em outro amarrotei
O teu xadrez de ira e aflição

Agora entendo
Como um inverno que desprende em dança
Desfalecido feito a tua farsa
A triste valsa que me deu pra ouvir

19 de maio de 2012

Na ponte do assunto

Suspira fundo o mar
Numa estante
Revoltada do lar
Do lado
De cá da beirada

A palha voa
Na areia
E o chão encontra casa nos ares
Luar de fogo levanta o olhar
Do sol dormente

Pula a água da insonia
Fervendo em espuma
Decrescente

Por engano e graça
Quis me ver sonhar
E inventei mais versos pra rimar

Organizei no quarto
Dessa pessoa um pacto
E imaginei no azul saudade

Tenho vontade de o céu parar
Pra ouvir ele contente
Em seu peito respirar

11 de maio de 2012

Um vínculo, da flor e da terra

Parecem bochechas
Cachinhos
Aparecem e expandem pro ar
Ar azul
Cama desfeita
Sofá
Aparece chuva e pipocas sequinhas
Parecem pedaços
Parece um abraço
Do sonho que eu tive pegando você

De pano, de vida, boneca

Doce, como toda a consternação
Como todo enfêrmo
Ela era amada de um amor que não achava espaço
E calma
Como calmo é o pavor das crianças órfãs
Possível regente de alguma vida
Como um deus proibído de acreditar
Verdade áspera de engolir
E tal vida, crescida
Solta num deboche perseguidor
Resistente, a encontrando às vezes
Como de forma bipolar
Respirando quente ou morta
Mulher a dentro,
Oscilando entre brincar e sobreviver

Retratação

Mesmo a falta de vontade custa
Existe dopada
Droga nojenta de experimentar

4 de maio de 2012

Velha chama

À água que vier
Que venha!
Queira vir
Devagar
Sem vontade
Sem calor e sem verdade
Pois que chama que a aquecia
Envelhece
E a memória só serve
Pra esquecer o que ardia
A água que vem, de coração,
Venha!
Suja
Com um pano úmido pra limpar
E a euforia
A alegria?
O samba, a promessa
a vontade, o calor e a verdade?
Nós dançamos desbotado
Nem só eu, nem só você
Às vezes, nós dançamos desbotado...
Mas, sabe que algo me faz leve amor?
Amor?
E que nada importe
Sujeira, água, pano
A chama arde num momento
Eu ardo
E se tua água chega gelada ou tarde
Que chegue de novo
Sem consciência
Pela metade
Estou aqui, sem mais pensar e sem vontade

29 de abril de 2012

Borboletas e a cor

Hoje eu pisei num dia doce que não aconteceu.
Aconteceu estrela (do  mar)
Nem quente, nem aconchegante.
Frio, azul, mentiroso e torto.
Um dia desses que soltam do céu
Implicam chuva no universo...
Gota cáustica, caótica, democrática.
Dia estrela que caiu pesado
Cantando grave às borboletas...
Desbotado, estúpido e devagar
Quase parado.
Se acomodou sonolento e fosco
Acabou.

É cedo

Vez em quando me deparo com a vida
E morro
Morro de vontade de nada
Ver a hora da partida
Recordar minhas chegadas

Em que eu amava
Eu amava...

Não querer me preocupar
Ter vontade da vontade

Porque tudo o que é triste
Acumula cedo ou tarde

A vida aparece
Na criança que implora chegar
É um espaço que eu ocupo
E cedo ou tarde vou deixar


14 de abril de 2012

...Não esqueça

Um passeio lembra a tarde
De um lugar que deu vontade
Pedalando na cabeça
O carinho que é de graça
Não atenue...

Parada respiratória, respirativa

Uma doida na janela
De quadros iguais
Neutra
Com pensamentos anormais
Pousa a cabeça e enfada o vidro
Com olhos transparentes
Quebradiços
Inocentes
Um pretume e meio inteiro
Pinta o excesso da saudade
Nessa paz que lhe invade
Obrigando-a meditar
Serenidade é plenitude
Um encontro desvelado
Repetitivo
Antecipado
Submersão atrasada
Investigadora
Delicada
Desprendida da voz humana
Parada

10 de abril de 2012

Quase toda a verdade

Você não deixou de faltar porque foi
Não esqueci que te amo
Esqueci de te amar
Porque me deixaste antes
Sem saber e devagar
De tanto pensar
Parei
De muito sentir
Endureci
E matei tua ausencia
Com as coisas que não perdi
Você deixou de fazer notar falta
Quando permitiu-me viver aqui
Sem esperar
Eu sento de fato
E fico aguardando a saudade
Porque não sinto mais o vacuo
De quem já tanto se ausentou

7 de abril de 2012

Eles fixam no chão

Me deparo com o infinito, vez em quando
E não desisto
Me atenho aos detalhes da folha que o outono, receoso, cuspiu
Expulsou
De um céu verde, enauseado dos seres que passam zumbis
De olhos fixos à frente ou ao chão
Lá de cima se enxerga outro
Ou um
Eu sinto suas graças
Sua sensibilidade
A devolução

25 de março de 2012

Hoje, duas

Amo quando ele canta
E ouço
É indício de que respiro
Danço
Num azul seda sem fim
Frescor morno que alenta
Sinto que escorre pela garganta
Feito um pedaço de sol que se inventa...
Isso são horas de voar?
Dentro da voz encantada és lindo
Pena que esqueço os detalhes
Minutos poucos depois que os sinto!
A mim tua vida foi confessada
E esvanecida
Amanhã se eu me perder te espero
Dentro de um sonho, adormecida

Uma vez à noite

Adoro quando você canta
Sob as cores do luar
As cobertas dançam devagar
E adoro quando passa à janela
Logo te ouço voltar ao ninho
De um lugar bondoso e quente
Dividimos um conforto
Sob leitos diferentes
Adoro quando você voa
E fecha os olhos para a brisa
Quando conta, em acalanto terno
Que o escuro é quase azul no inverno
Me faz explorar os sentidos
Procurar...
Deixa eu sumir no teu carinho!
Me leva ao colo, passarinho
Transporta para o infinito
Mostra o caminho em teu vôo bonito
Me leva nas asas passarinho
Mostra a senhora imensidão
Protege a tua amada
A deixa morar nesta canção

19 de março de 2012

Verdes

Eu não beijei teus olhos lindos mas o amo...
Minha fonte que não possuo!
Os meus choravam dentro dos seus
És criança e doce qual todas
Feita de mel alegre e encanto
Sinceramente, amor
Lindíssimo
Não preciso mais que fale
Cante apenas, com sua cor
Que a flor do teu espirito, exale
Meu anjo forte, nunca chore
Que teus olhos envergonhariam o mundo!
Ouça o que ensino:
Tua alma tem duas janelas
Claras, profundas
Onde moram os mares da tarde
Esperança à vida, não fuja!
Nem morra
Não me obedeça nunca e corra
O universo irá zelar por tua pele
Teus sons
Por você

8 de março de 2012

Realeza

Sou grata a todas as flores
Porque sou viva
E reconheço os presentes pagos
Mas são as emoções que guardo em cofre de ouro
Ante às palavras lisongeiras
Desmancho
Ou não
Porque entorno mel
E ferroo
Voluntaria ou acidentalmente
Jamais obrigada!
Sou o que não sei
Uma continuação
Ser inacabado e rico
Em detalhe, magia e capricho
Sou efêmera dentro da força que visto
Ponho a alma no corpo
A justiça nas unhas do discurso
E a dor na sola dos pés
Caminho, percebo o invisível
Respiro
Da metade da vida, sou poesia concreta

27 de fevereiro de 2012

Escultura só

Num lago límpido de sede amarga a minha cura submerge
Transparente, lisa
Consciente
Qual a manhã arborizada
De cantos noturnos
Angélicos
Sonolentos
Eu danço sem fazer barulho
Embalo a mais pura sede
E só, num barco que você talhava
Corro
Dos pavores que o teto cultiva
Dos terrores que a terra produz
Não sonharia deitada
A alergia dos dedos me induz

Da cama que cospe

Desgaste musical
Nostalgico
Embaralhado
Embaçado
Engasgado
Morto
É a dança das tabuas soltas
Vai ecoar
Na poesia que eu roubei de mim
É delicioso
Uma palavra suculenta e macia
Uma pétala no encrustamento precioso dos sapatos
Que pisoteiam as nuvens
Oh
Eles amaciam as nuvens chuvosas
Que choram majestosas
Numa rima imprestável
Clichê
Intragável

25 de fevereiro de 2012

Quanto às estações


Elas são a verdadeira alma das lembranças
A memória dancante na composição dos sentidos
O perfume nostálgico da vida graciosa
A ressurgir colorida
O frescor do ar nas noites livres
Estreladas
A chamada do frio, deixando macio e ocre o chão
A cor deliciosa do calor vital,
Doce, amadeirado
Mágico, inverno.

14 de fevereiro de 2012

Pra nunca mais te ver morrer

Hei de muito nadar
Na tarde que partir tua jangada
E hei de aumentar no percurso
A água toda do mar

A gota turva do olhar
Negra, haverá de escrever
Uma carta que meu perfume
Vai adoçar aguardando te ver

E quando o mar se achar em ressaca
Uma onda brava vai encontrar
A dor que rabisquei nas areias
Enquanto esperava tua boca chegar

De onde vim

Fiz um ritual

De uma dança silenciosa
Escamei os peixes do passado
E deitei
Pra lamentar sob uma areia desmaiada
Assistir brotar o sal de algum presente

1 de fevereiro de 2012

Mero pesadelo, desorganizado

A cabeça, se lateja inflama
O conceito meticulosamente...
Sentido!
Inflama
A voz do afeto
Que sufoca o ódio com carinhos
E agarra a areia dividida
Em nada
É o pó que inflama a garganta pra calar a saudação
O pequeno que de nu veste o medo
Previsão de cigana falsa
Que empurra uma erva entoxicante
Poderosa
Escalando a cabeça
E da cabeça voa
Pela boca
Com lábios
Cativantes
Deliciosos
Percorre a camada sinuosa e fina
Alma
E morde o sono com desespero tamanho
Que o sonho passa a ter medo de aparecer
É monstro que divide a cama dos terrores
Com você

17 de janeiro de 2012

Uma

Sonhei que me amava em letras
Que me amava repetida e desesperadamente
Eu sonhei que me amava em promessas
E acreditei que promessas desgraçavam a vida
Eu jurei não gostar nem chorar
Eu sonhei que a lua não passaria de esfera branca sem linhas diagonais
Jurei que a força prenderia tua cabeça a minha
Mas o coração conhece o pesar
O incontrolável e o maior
A desgraça e o frio que ferve os ossos
Não tenho saudades da morte
Não tenho vontade dos fracos
Tenho aversão ao peito de nuvem inconstante
Eu tenho pedra na vontade da alma
Tenho um túmulo gelado prometido no sangue que a minha justiça sofreu

16 de janeiro de 2012

Medo é nada, pois que cães não mordem o coração

Os meus botões falam-me tudo
E nada
Confirmam e esfriam o peito
E sobre o peito, os meus botões desafiam
Debocham do meu momento
Trazem à pele da primavera o frio
Concreto
Meus queridos, simpáticos, lindos botões
Costuram na garganta o choro
Abotoam o ideal da razão
Bebem em dois tempos as falas da gente
Antes da tal desventura
Me afirmassem deveras inteligente
É certo que meus botões por vezes me enganam
Lançam um silêncio sincero
Depois desesperam,
Expulsam de dedos agudos canção.
A justa resposta de olhos ausentes me fez libertar
É sorte que os braços de açucar
Não vão mais merecer de mim, escapar

Do lado dos mares

Você virá com a falta de toda a saudade que me plantou
Não como vento de amor furioso
Nem como brisa se derramando em carinhos
Virá, se eu o notar, como a lombada efêmera dos mares no inverno 
Como um sopro infantil no centro do vendaval