31 de julho de 2011

Regresso (Do oposto do segredo das mãos)

Essas coisas bem trancadas no teu peito
No teu medo
No teu sonho
De como não sou antes
Note
Grite a frente e anote em versos
Enfrente
O único sopro que não me derrubará
Toque
Toque mais fundo o coração sem que permita
Sei eu o que importa
Insista
É um tanto milhões de vezes mais delicado ele, se inteiro
Pois sê inteiro, ser comedido
Inteira e desmedida a alma após

28 de julho de 2011

De minha lembrança salgada esquecida nas ilhas que nunca pisei...

Me acorda a mente ofertando o bálsamo
E o peito afogado em medo, respira apertado
Descalços os pés marcham à leste
Nasce algum sol
Minha vontade, equilibrada sobre a ponte
Extasiada de seu canto
Levitante
Pinta-me em um dos tons do céu
Mescla de cor, canção
Invenção particular
Tu, areia, convida meu corpo
Tocada em brisa
Enamorada
Minha alma despida irá respirar
De seus encantos a ressaca envolvente
O feitiço me chama
Beija-me os pés, primeiro
Sente o calor do coração
E cortês
Em ondas verdes puxa-me inteira
Sussurra os segredos
Partilha de toda a sua imensidão...

(26/07)

25 de julho de 2011

Delicada

Teu olhinho manhoso
Medroso, me encontra
E tua voz baixinha me conta
Em preço raso compra minha falta
Tua mão, pequena
Com teu riso trêmulo acena
Da saudade que vem saltitando
Das rimas que nos custaram tanto
Uma conversa
Desajeitada
Alegre, delicada

23 de julho de 2011

Andei

Ando emprestando palavras tortas
Me vendo aos olhos do que esqueço
Escapo ilesa e manobro o impulso
Me esqueço
Se até em teu nome andei pensando
Pisando a calçada rasguei em avesso
Tua saudade me jura a verdade
No meu espelho refletes tão tarde
Me explique a razão das contas
Se ao final dos contos me sinto infeliz
O excesso em lembrança rói o terço do peito
Arranca calma que não aceito
Ao chegar do último canto que mereço
Troco a velha melodia de endereço

20 de julho de 2011

Cor padrão

Mas em teu riso preto,
E branco a seco, a força
De uma insistência qual humildade rasga o aço
Tua carência estende as mãos à frente
A oferecer o que um prazer lhe quis negar
Em teu orgulho vivo, um rato
Diversão de teus iguais mais fracos
Cabeça pra perder num rio de frases que não sabes ler

18 de julho de 2011

Corte

Nada vale antes do pó
Tua escada é manto rasgado e cheio
A pergunta que me responde a canção
Não sei se é bom, ruim
Pesado ou triste
Se minha vida existe, quero um pedaço pra chorar

17 de julho de 2011

De uma pessoa só

Pezinhos na areia registram histórias ternas
Contornando a água morna no único contexto que a agrada
Murmura o passarinho
Numa ponte de cordas, passa o mar
Mas emaranhavam-se os capítulos...
A rima dela irrita a onda e nada mais
Aborrecimento que ambiciono
Qual ressaca embala os sonhos de quem não dorme
A rede é o vento
O Sol, a própria chama envaidecida a acabar com rosa a ilustração
A qualquer preço, cubro as viagens do mundo pra lua
E calma, decifrarei nas pegadas o que segue tua lenda
Te amo ainda que fujas de minha proposta
E te espero às vésperas do adormecer

16 de julho de 2011

Que o veneno sufoque a mesma erva amanhã

Te digo, quando em ti tropeço, flor!
Sorvendo em orvalho os goles de tua saudade
Aflita, qual torrão de açúcar afogando a confissão na garganta da alma
É que me apertam os nervos da razão tua falta
Pós êxtase
Me debocham aos sorrisos feito a tua sorte involuntária pelas ruas dos pequenos abismos
Também em soluços contidos, inebriados de satisfação, a demora me assalta o peito
Uma dança vaga dos teus olhos eternos me toma ao colo e embala às vésperas de uma fantasia qualquer
Te respiro, como quem atrai aos pulmões a sinceridade e exala em perfumes sórdidos o fardo pesado do mundo vivo
Minha distância entende que escutas minhas verdades no calar de silêncios disfarçados pelas vergonhas mais discretas
Não morrerás, nem deixará existir maior beleza, viva
Subamos além, feito a escada de cordas escala a lua nublada
Feito o mesmo sentido a aproximar nossas palavras

6 de julho de 2011

Desenho da primeira tarde

As cores imitaram hoje a neve dos filmes
Num cenário improvisado sem flocos de gelo
Tingida do azul desbotado a calma dos prédios rezava
E os sinos da outra igreja, ao longe cantavam
A paisagem, abraçada às casas com frio, mesclava esse mesmo tom ao das luzes douradas
Dormiam acesas, nos morros do velho campo
Era outra beleza, fugida dos braços de sol que se despedem rotineiramente majestosos
Era gracioso, delicado, claro
Sereno como a generosidade do tempo que para pra uma moça triste contemplar...

(05/07)

2 de julho de 2011

Logo menos

Sabes bem que encanto corriqueiro nos arrebentará
E sabes que cores desbotadas vão lhe fazer retornar
Que a paz desse drama é o descanso de uma partida nobre
Que os mortais apenas, hão de recordar
Embalados pelas canções fanáticas de Iago
Invocando lembranças no acaso sonhado

Teu rosto nublado

Sem vontade as tuas pernas vem depressa 
Qual velocidade que o sonho inventa
Eu não quero nem invoco, 
Sei que choras cada dia que me escutas nessa face estranha
E acomodado descansarás as dores serenas que plantamos juntos
Qual assalto de passado, qual todo inverno nublado 

1 de julho de 2011

Sete pragas na memória de Troia

Eu sei porque não ousaram sussurrar
O grito acalma a tua raiva no meu peito que inflama
A tempestade vai morrer tão violenta como a pressa de fugir desse terror
A semana que chegar vai relatar que eu aguentei
A força do meu colo aguenta cem
Mas eu vou pegar esse barco turbulento
Eu vou nadar no mar quando ele se quebrar
A praia vai sorrir, meu lar vai convidar para um café
Eu vou rir dessas desgraças e me fartar em novas preces
Cercada de frutas vistosas, areias saborosas
Mar de exagero me aquece

Um quarto do quadro negro inacabado

Arrodeia o gato que desprezo
É ele que me cerca, o estranho que comove
Que minuciosamente se move
Arrodeia o gato que eu não amo e que é de todas criaturas a que pisca e belisca sem vontade,
Prazer, nem piedade
Arranha a fronha suculenta a qual arranca o codinome
Embrulhada em cetim é quarto de quadro negro acabado
E o traiçoeiro nem percebe, chia afinado que ainda é cedo
Sem vontade nem dever
Sem espaço algum pra medo



Oito invernos

Desperta, anjo, a fúria do machado
Largue o peso de teu pavor nos meus lábios cegos de rancor
Dance com ele de olhos embriagados
E me acerte como os abutres o coração da alma
Reúna todos, todos os teus versos repetidos e guarde meus braços
Para que eu os rasgue e lance em carnaval sobre o teu rodopio incessante
Acompanhe-me à floresta de espelhos rasteiros...
Ouça o canto da chama crescente flutuando nas teias
E derrame teu veneno amargo sobre esses versos enjoativos antes do fim

(22/06)