25 de março de 2011

Julieta

É que eu não forjo, propositalmente, sentimentos
Eu nem sinto que sinto os dedos falarem
Encarnando personagens, em milhares
De vontades incertas, ainda
E de certezas almejadas
Que eu não queira, sei
Que não precise
Tua canção empurra pelos meus braços
E teus personagens sonham dentro do sono dos meus
Eu digo, é que não sei forjar desinteresse
Eu apresso, é que é dificil exercitar a calma
À tí foi fácil que perdeu a graça
Meta insossa
Sonhar assim me basta
Ainda que me encante o espetáculo
Não significa que eu vá me apresentar

(14:31)

15 de março de 2011

Do gosto do sono

Me deixa morar naquele sono
Naqueles dois, tão vivos como inéditos
E que seja ilusão, eu clamo que me cegue
Que seja acaso, eu me disponho
E que seja nocivo eu me embriago dos seus delírios
Apaga a luz e me faz dormir, beijos da noite
Flores enormes desse sonho
Gosto que eu nunca senti
Deixa alí
Que eu caia, que tem?
Da terra eu não vou passar

(12:20)

12 de março de 2011

Nem o perfeito que te basta

Uma inteligência incompreendida
Burrice
Inocência
A palavra vai chegar à pessoa certa na hora certa
Ela existe
Mas só ela
Existe muda
Com milhares de significados
Pra ninguém
No mistério da lágrima você sempre encontra sentido
Você sempre diz que entende o que não tem resposta
Eu não sou minhas palavras com o teu significado

(23:45)

11 de março de 2011

Até que tua música decida

Sentei pra ver o que passou de um filme eterno
Começou num berço carregado
De amor
Vai terminar num túmulo coberto 
De saudade
Caos interior
Compreendi
A essência não deve ser compreendida
Senti que o controle não pode ser sentido
Nem aprender, nem mudar
Não vou lembrar dos passos
Basta chorar as pegadas até que o extraordinário aconteça
Até que teus dedos decidam encontrar em meu coração morada fixa
Ou estrangulamento

(01:13)

6 de março de 2011

Persistente lembrança

É assim que oscila
Não vi carinho pra lá da cidade
Sabes bem que reservo surpresa
Se um dia sonhasse com minhas palavras caminhando a ti
Se apanhasse no exato lugar de tuas cartas as minhas
Ah! Me daria um beijo na hora de partir
Não faz diferença o sentimento do lado de dentro do peito
Não me chega tua vontade
Teus cuidados
Vaga lembrança do teu amor

(00:09)

À ti

Pedacinho de lua em mim
Noite
Migalhas de pipoca na janela, o vento rouba
Menina vaidosa lendo contos de amor
Ah! Tua melancolia é doce como doce é o cuidado do pai
Tua canção toca lá fora um bocado depois de tocar só pra ti
Tocam teus pés a varanda e emudece o teu coração
Constrói-se um canto para que sonhes
Um mundo para que explores
Teus olhos grandes me orgulham
Não chores que não acha espaço em tua vontade
Cultive abertas as pálpebras, em flor
Derrame se chegada a hora, reserve à ti tuas prendas
Partilhe contigo teu amor

(00:00)

5 de março de 2011

Chama eterna

A espalhar essa tua cor como que fossem as sete vitais
A observar os campos verde-claro dos teus olhos em chama eternamente aberta
A compreender-lhe as linhas do destino na disposição calma das mãos
A apoiar-lhe o anseio
Adivinhar-lhe a nobreza detrás dos feitos singelos
A tecer-lhe ainda o véu que abrigue os sonhos fomentados
A achar-lhe num canto doce, decididamente dedicada a amar-se

(20:27)

Do fogo

Eu gosto desse teu sorriso
É com a cor das palavras que morreram envergonhadas de desonra que eu tento pintá-lo
É como a insistência
Há flores que não insinuam frases
Mas vozes de fragrâncias entoadas em finos coros dourados
Não adianta que eu misture os tons
Eu sei que é fogo e que ninguém o sabe
A alma da guerra não permite que paremos ante a alma do guerreiro ao chão

(19:20)

Linha

Não destrói
É muito amiga ela
Essa que conhecemos por vilã
É necessário o luto quando morre um mal
São transições obviamente transformadoras

(19:00)

2 de março de 2011

Nossas casas

Espera morrer
Espera, ninguém vai entender
Teu brilho ontem era solúvel
Eu penso na música, ela canta
Eu piso a calçada e paro um coração
Ah! Vai brincar de dormir um pouco
A gente sonha que canta desafinado e gosta
Depois volta um pouco a hora e trata as borboletas da barriga
Você para de tentar adivinhar que eu cansei disso tudo
Vai fazer uma casa nossa sem chão certo pra dormir
Vai que eu te ajudo
É assim que eu rio até cair

(17:06)

É só

Que eu poderia hibernar neste inverno, só neste
Eu lhe oferecia a voz e a febre
Você me deixava a contradição do calor e a janela
Uma porção de melodias iguais e eu te entregaria o movimento dos olhos
Eu respiro lento se aumentares os dias da estação
E se forem todos de um cinza assim, consagro-lhe o matiz dos lábios
Faz ventar forte e afasta todo o ser
Um desejo importante, eu troco pela emoção

(pela manhã)

Exceto a madeira

Que os devaneios fossem pinturas inéditas
Saudade recente
Que não piscassem as luzes nem me engolissem os vermelhos
Que não misturasse sono e despertar
É que sou o remédio do eterno distúrbio
Nem lá há sol
Há tampas de tintas, abelhas e nós de madeira roída 

(pela manhã)

Não precisa

Diz-me o que eu sei
Mostra o que há na frente
Ressalta as coisas superficiais
Mas tem um lugar, eu já soube
As montanhas se movem conforme as sinto
Dentro tem por de sol rosado, chuva quente
Excursões iluminadas à vela
Pra curtir meu riso, tem lã e um sopro macio

(pela manhã)

1 de março de 2011

A Via Láctea

Se esconde num delírio o mal maior
O verdadeiro resiste mesmo ao tempo e suas relativas mudanças
Deixa pingar
Apenas deixa
Deixa eu escrever como antes
Ser teia como sempre fui
É abstrato o inexistente
É essa minha expectativa, o vazio enorme de concretização
Um vulcão de equívoco e espera
É que sou tão pouco
São tão nada
De que cansa o acaso?
Eu enganei o orgulho e não há quem o mereça
Escalar a ferrugem é vital
É só
Ninguém é forte por viver
Nem pra ver esses teus olhos grandes
Teus olhos num dilúvio quente impiedoso
Numa viajem constante
Um reflexo mentiroso
Porque cresce, assim, como um pavor?
Quanto mais verte mais inunda-os
É avalanche e não encosta
Depois vem tua voz
Essa tua voz que devorou minha depressão
Mexeu mais na ferida que esse mundo em que volto a mergulhar
Um rio raso em ornamentos espelhados ocultando as pedras famintas
Minha cabeça
Uma febre nervosa
Então entre no peito, covarde, e arranque de uma só vez
A tristeza é só palavra
Sentimento comum
Embriagada repito que é meu
Deixa pra mim a insanidade
Tem mundo a fora pra ser normal
Já não se perde nem a falta de vontade
Um reencontro
Você me viu alegre?
Oh! Desculpe
Desculpe oportunar
Finja que foi um corvo
Um corpo leve e sem luz

(00:30)